O ritmo acelerado da vida contemporânea pode estar afetando diretamente a nossa capacidade de sonhar, comprometendo um dos mecanismos fundamentais para a criatividade e o desenvolvimento humano. Essa é a preocupação do neurocientista Sidarta Ribeiro, curador da exposição Sonhos: história, ciência e utopia, em cartaz no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, até 27 de abril.
Segundo ele, as novas gerações estão sonhando menos, e quando sonham, raramente acessam ou interpretam seus próprios conteúdos oníricos. O excesso de estímulos, o uso constante de telas e a rotina acelerada impedem que as pessoas se conectem com suas narrativas internas, resultando em um impacto negativo na criatividade e na imaginação.
O sonho como fonte de inovação
Os sonhos sempre tiveram um papel crucial na história da humanidade, servindo como fonte de inspiração para a Filosofia, a Literatura e a Arte. Registros históricos mostram que as civilizações antigas valorizavam as mensagens dos sonhos e os utilizavam como guias para decisões importantes.
No entanto, Ribeiro argumenta que a sociedade moderna está cada vez mais distante dessa conexão. “Acordamos atrasados, já com o celular na mão, e não nos lembramos do que sonhamos. Muito menos conseguimos compartilhar essas experiências e interpretá-las”, afirma o neurocientista.
Em seu livro O Oráculo da Noite: A História e a Ciência do Sonho (2019), Ribeiro define os sonhos como uma espécie de simulacro da realidade, composto por fragmentos de memória, funcionando como um espaço livre para a criação e o pensamento simbólico. Sem esse exercício mental, o risco é que a sociedade se torne menos inovadora e mais literal, sem espaço para metáforas e abstrações.
O impacto da vida moderna nos sonhos
O modo de vida contemporâneo está reduzindo drasticamente o tempo de sono das pessoas, diminuindo, consequentemente, a incidência de sonhos. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos antes de dormir, o estresse e a falta de tempo para descanso profundo são fatores que contribuem para esse fenômeno.
Para Ribeiro, resgatar a importância dos sonhos é essencial para manter a criatividade humana ativa. Ele sugere que as pessoas passem a registrar seus sonhos ao acordar e tentem interpretá-los, como forma de reconectar-se com essa experiência milenar e fundamental para a imaginação.
Fonte: Sidarta Ribeiro, publicado por Roberta Jansen, do jornal Estadão.