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quinta-feira, março 28, 2024

Azeite de oliva do Rio Grande do Sul terá selo de qualidade

Lotes de cada safra devem ser submetidos a análises do Grupo Avaliador do Programa Produtos Premium para receber o reconhecimento, que poderá ser estampado no rótulo da cada marca como informação ao comprador

 

A qualidade dos azeites de oliva extravirgem produzidos em solo gaúcho será reconhecida por um selo atribuído pelo Programa Produtos Premium, coordenado pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia em conjunto com as secretarias da Agricultura, do Meio Ambiente e Infraestrutura, do Desenvolvimento Econômico e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).

O regulamento para os produtores de azeite de oliva se habilitarem a exibir a distinção no rótulo foi publicado em 13 de janeiro. O lançamento do selo deve ocorrer ainda no primeiro trimestre de 2022. A área da olivicultura é a segunda a se habilitar ao reconhecimento. Antes, em 4 de janeiro, foi publicado o regulamento da Carne Premium Gaúcha.

Lançado em setembro de 2020, o Programa Produtos Premium busca valorizar e incentivar produtos de qualidade elaborados no Rio Grande do Sul. “Essa certificação tem a ver com qualidade e existe para mostrar que todas as etapas de produção ocorrem no Estado”, explica Jonathan Vaz Martins Silva, da equipe do Programa Produtos Premium. Segundo ele, a certificação analisa a qualidade sensorial do produto e é mais exigente que as normas nacionais quanto às suas características físico-químicas.

Para adquirir a certificação, o produtor deve ler o regulamento, preencher dois anexos e apresentar a documentação solicitada ao Grupo Avaliador das demandas. Se aprovado, ele vai receber um selo a ser colocado na embalagem do azeite. O processo vale apenas para a safra vigente, sendo necessário repeti-lo a cada ano. O selo Produtos Premium não tem as mesmas características das Indicações Geográficas, certificações nacionais que indicam, entre outros itens, o lugar de procedência de determinados produtos. Entre as diferenças do selo regional estão a necessidade de comprovar a qualidade a cada colheita e a concessão anual, mais rápida. 

Demanda do setor

A certificação para o azeite de oliva surgiu a partir de uma demanda dos próprios produtores, que procuraram a equipe do programa Produtos Premium em 2020. De acordo com Jonathan Vaz Martins Silva, o setor buscava proteger sua produção e manter a qualidade alta do azeite, além de evitar sua comercialização irregular, já que dados do Ministério da Agricultura indicam que trata-se de um produto que está entre os mais fraudados do Brasil. Assim, representados pelo Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), os produtores buscavam um modo de identificar qual azeitona havia sido plantada e se ela havia passado pelas etapas de extração do óleo e envasamento em solo gaúcho. 

A partir daí, a demanda foi encaminhada ao Comitê Gestor do programa Produtos Premium, que aprovou a constituição de um Grupo de Trabalho em 27 de julho de 2021. Este construiu um regulamento, que tem como princípios a origem e exigências de qualidades, em especial as físico-químicas e sensoriais do azeite de oliva.

Olivicultura estadual

Um dos eventos que marcou o início do trabalho do programa Produtos Premium com a olivicultura foi o “Novos Caminhos do Azeite de Oliva Extravirgem no Rio Grande do Sul”, ocorrido em setembro do ano passado, na programação on-line da Expointer. Na ocasião, o presidente do Ibraoliva, Renato Fernandes, lembrou que Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção nacional de oliva e o crescimento dessa cultura no país foi expressivo. De acordo com Fernandes, agora os produtores começam a ter retorno sobre o investimento que fizeram. 

Óleo elaborado com azeitonas cultivadas no Estado já conquistou centenas de prêmios internacionais e chega mais fresco e com mais propriedades antioxidantes ao consumidor.

O presidente do Ibraoliva também destaca que o Brasil tem mais de 200 premiações em todo o mundo, pela qualidade de seu azeite de oliva. “A responsabilidade é grande porque o crescimento deve ser grande também”, comenta. Segundo o dirigente, há mais de 1 milhão de hectares propícios para a olivicultura.

“Não tenho dúvidas que o azeite daqui é páreo para qualquer azeite europeu”, ressalta o agrônomo Emanuel de Costa, diretor de Produção e Transformação e sócio da Azeite Sabiá, empresa que está preparando sua primeira planta de produção no Rio Grande do Sul. “Temos boas máquinas e especialistas que nos acompanham anualmente”, prossegue. “Sem sombra de dúvidas, (a olivicultura) está consolidada e agora temos que ter produção constante todo ano, esse é o desafio.”

Para Costa, a certificação do Produtos Premium é importante para desenvolver o gosto dos brasileiros pelo azeite de oliva local. “Esse cultivo é muito recente no país; as pessoas estão começando a apreciar (o produto)”, comenta. O diretor lembra que ainda são raros os painéis sensoriais (grupos de pessoas que, dentro de determinados critérios, avaliam o azeite) aptos a qualificar o óleo de oliva. Como esta análise é indispensável para a atribuição do selo, o Ibraoliva está montando um painel de avaliação com especialistas e convidados. 

A avaliação sensorial é importante para uma classificação precisa do azeite extravirgem, aquele feito somente de azeitonas prensadas a frio, com características químicas e sensoriais distintas. Segundo Costa, para que isso seja determinado, além de avaliação química da acidez do azeite, é preciso que seja detectado, por exemplo, que não há ranço, cheiro de metal, borra ou fermentações.

Safra é promissora e será aberta em 4 de março

Colheita já está em andamento, mas abertura oficial ocorre no início do próximo mês em Viamão, em cerimônia que mostrará aos visitantes todo o processo de elaboração do produto, com degustação ao final

A 10ª edição da Abertura Oficial da Colheita da Oliva ocorre no dia 4 de março na Estância das Oliveiras, em Viamão, com início das atividades às 8h30. Depois de uma versão restrita por causa da pandemia da Covid-19 em 2021, o evento de 2022 traz uma programação especial com espaços para expositores de azeites, mudas, máquinas e equipamentos para um público de convidados e outros que manifestarem interesse em participar diretamente ao Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), pelo e-mail [email protected]

A organização é do Ibraoliva, com apoio do Governo do Estado, Prefeitura de Viamão, Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Quem estiver no local vai poder observar o ato simbólico de colheita de olivas, acompanhar a produção do azeite em um lagar (local onde se separa a parte líquida da parte sólida da fruta) e, por fim, degustar o óleo. A Estância das Oliveiras, segundo o sócio diretor Rafael Sittoni Goelzer, é projetada para que haja interação entre o público e a olivicultura. “O nosso lagar é pedagógico”, define, explicando que as instalações permitem que os visitantes possam ver todo o “passo a passo” da produção do azeite. 

De acordo com Goelzer, o evento ajuda a promover o olivoturismo, proporcionando ao público uma maior educação de paladar. “Isso foi feito com o vinho e a cerveja há anos atrás, agora está acontecendo com o café, chocolate e com o azeite de oliva”, exemplifica. “A gente não tinha um azeite fresco e de fácil acesso”, lembra, referindo-se ao tempo anterior ao desenvolvimento da olivicultura no Estado. Como, neste caso, o produto jovem é melhor, Goelzer destaca que o azeite gaúcho tem mais qualidade e acredita que vai ganhar cada vez mais espaço à medida que o consumidor perceber isso. 

O presidente do Ibraoliva, Renato Fernandes, diz que as expectativas para a Abertura da Colheita são as melhores possíveis. “Estamos trazendo (o evento) para a Região Metropolitana (de Porto Alegre), fato inédito, para estar mais próximo do público”, ressalta, citando ainda que isso vai atrair os produtores de municípios próximos. 

Intempéries que prejudicam cultivo de grãos do Estado desde novembro ocorreram depois da fase crítica das oliveiras, que foi em setembro, e, por isso, produtores se mostram animados com os resultados do ciclo. Foto: Estância das Oliveiras / Divulgação / CP

Segundo Fernandes, a colheita não foi afetada pela estiagem, pois problemas como a falta de chuva ou precipitações demasiadas podem prejudicar as oliveiras apenas em determinados períodos do ano. “Nós tivemos uma vantagem porque o nosso problema seria em setembro. Como os frutos já estavam formados, não tivemos prejuízo”, afirma Fernandes, que também relata uma expectativa de quebra de recordes para este ano, quando o volume de litros de azeite elaborados no Estado deve superar os 202 mil de 2021, por conta da entrada de mais pomares em produção.

Quanto à qualidade das olivas, Fernandes afirma que será alta. “Nós aqui da produção brasileira temos um controle muito grande, desde a escolha da muda até a industrialização”, garante. Segundo o presidente do Ibraoliva, o azeite brasileiro, que tem cerca de 70% de seu volume produzido no Rio Grande do Sul, é mais fresco e tem mais qualidade que os azeites importados. “O mercado já entende essa qualidade especial do nosso azeite”, diz, convicto de que a produção nacional será absorvida, uma vez que equivale a menos de 0,5% do consumo do Brasil, que é o segundo maior importador de azeite de oliva do mundo.

Na Estância das Oliveiras, a colheita teve início no dia 12 de fevereiro e vai até o final de março. No local, existem 30 variedades diferentes de azeitonas. “No ano passado tivemos altíssima qualidade, mas pouca quantidade. Neste ano vamos ter alta quantidade e qualidade”, afirma o sócio diretor, Rafael Goelzer. A Estância das Oliveiras colheu 20 toneladas de oliva no ano passado e tem a expectativa de colher entre 25 e 27 toneladas em 2022. “Nesta safra tivemos a maior floração de todos os tempos”, observa Goelzer, ao contar que na safra do ano passado houve chuvas e ventos fortes na época da floração, o que prejudicou a colheita. Além disso, neste ano há mais oliveiras maduras o suficiente para dar frutos. 

Nos últimos anos, o cultivo de oliveiras no Rio Grande do Sul cresceu rapidamente, passando de 80 hectares em 2005 para aproximadamente 10 mil hectares em 2021. A expectativa do setor é de atingir 13 mil hectares nos próximos três anos. “Os gaúchos unem um trabalho de qualidade com o compartilhamento de experiência com os turistas. Unem a técnica de mais alto nível com a possibilidade de mostrar para as pessoas a produção real”, afirma o sócio diretor da Estância das Oliveiras.

Por: Camila Pessoa / Supervisão de Elder Ogliari

 

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Redação CLICR
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