Coluna de Thiago Signorini Gonçalves / Uol
Essa notícia ainda vai dar o que falar: cientistas encontraram sinais de moléculas orgânicas na atmosfera de Vênus! A impressionante descoberta foi divulgada nesta segunda-feira (14), em uma transmissão da Royal Astronomical Society no YouTube, e também foi publicada na revista Nature Astronomy. Liderada por Jane Greaves, da Universidade de Cardiff (País de Gales), o estudo é uma cooperação entre cientistas de diversas instituições do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Japão, incluindo o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na sigla em inglês).
Eles não encontraram vida venusiana diretamente, mas sim uma importante evidência: a presença de fosfina (hidreto de fósforo, PH3). Nas grandes quantidades em que foi encontrado, o gás pode ser resultado de processos biológicos e, consequentemente, de seres vivos. Greaves usou o radiotelescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, para estudar a atmosfera do planeta Vênus, e a equipe deu seguimento ao trabalho com o potente observatório Alma (Observatório Grande Matriz Milimétrica do Atacama), no Chile. Nos dados, um resultado surpreendente: a atmosfera de Vênus contém uma quantidade elevada de fosfina. Essa molécula, formada por um átomo de fósforo e três átomos de hidrogênio, é uma importante aliada de astrobiólogos. Isso porque na Terra ela é produzida somente em laboratórios ou pela redução de fosfato por sistemas orgânicos.
A doutora Clara Sousa-Silva (Instituto de Tecnologia de Massachussets), que também é autora do trabalho, já trabalha há algum tempo com simulações computacionais prevendo a ocorrência de fosfina em planetas habitáveis, em particular em ecossistemas sem a presença de oxigênio. Segundo ela, se hipotéticos microorganismos venusianos trabalhassem a aproximadamente 10% da máxima eficiência de seus primos terráqueos, a quantidade de fosfina poderia, sim, ser explicada.
Pronto, problema resolvido! Encontramos vida em outro planeta! Ou não? A própria equipe de cientistas está sendo muito cuidadosa em como trata os resultados. O grupo dedicou muito tempo a buscar origens cada vez mais exóticas para a fosfina, como por exemplo uma faísca produzida pelo atrito entre placas tectônicas. Nenhuma hipótese, no entanto, foi capaz de explicar a abundância fosfina observada.
“A detecção de fosfina na alta atmosfera de Vênus e uma possível explicação biológica para ela devem abrir as portas para novos caminhos na busca de vida no Universo. Apesar de já terem sido considerados diferentes ambientes para a existência de vida, o foco principal tem sido na busca de planetas com ambientes similares aos encontrados na Terra”, explica Fernandes.