Nos últimos anos, enquanto as taxas globais de natalidade vêm caindo, um fenômeno chama a atenção: o aumento do número de gêmeos e trigêmeos. Esse crescimento inédito na história contraria a tendência geral e sugere que novos fatores estão influenciando os nascimentos múltiplos.
Estudos indicam que a principal explicação está em fatores sociais e avanços na medicina reprodutiva. O aumento da idade materna é um dos principais fatores, pois mulheres mais velhas têm maior propensão à hiperovulação, quando mais de um óvulo é liberado no mesmo ciclo. Além disso, tratamentos de fertilidade, como a fertilização in vitro (FIV), contribuem significativamente para o crescimento das gestações múltiplas.
No Reino Unido, por exemplo, os números revelam essa mudança. Em 2023, enquanto apenas um em cada 2 mil nascimentos de mulheres com menos de 20 anos foi múltiplo, essa proporção subiu para um em cada 57 em mulheres entre 35 e 39 anos. A evolução das técnicas de reprodução assistida também impactou esse cenário. Nos anos 1990, era comum a transferência de múltiplos embriões em tratamentos de FIV, resultando em um aumento expressivo de gestações gemelares. Hoje, com a campanha “One at a Time” incentivando a transferência de apenas um embrião, a taxa de nascimentos múltiplos caiu, mas ainda assim se mantém elevada.
Outro aspecto relevante é a projeção do aumento de nascimentos múltiplos em países de baixa renda até 2100, conforme aponta uma pesquisa recente. Esse crescimento estaria atrelado à elevação da idade materna nessas regiões, refletindo mudanças no comportamento reprodutivo global.
Apesar da alegria que a chegada de gêmeos ou trigêmeos pode trazer, os desafios também são significativos. O nascimento prematuro é uma preocupação constante, ocorrendo em cerca de 60% das gestações gemelares e em quase todos os casos de trigêmeos ou mais. Isso aumenta a necessidade de cuidados neonatais e pode gerar custos elevados para as famílias. No Reino Unido, por exemplo, estima-se que o custo financeiro de criar gêmeos seja pelo menos 20 mil libras (aproximadamente R$ 147 mil) maior do que ter dois filhos em períodos distintos.
O aumento dos nascimentos múltiplos é um reflexo das mudanças sociais e médicas que moldam a sociedade contemporânea. Com menos bebês nascendo no geral, mas uma maior incidência de gestações gemelares, esse fenômeno pode transformar o panorama da maternidade e exigir novos olhares sobre o suporte às famílias.
Fonte: Elizabeth Bailey, professora associada e diretora do Elizabeth Bryan Multiple Births Centre da Birmingham City University.