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Cerro Grande do Sul
sábado, abril 20, 2024

Violência alimenta a violência

Por Fábia Richter – Enfermeira e Gestora

Nossa região vivenciou, de maneira surpreendente, a situação da mulher que colocou o marido na fornalha. Não conheço detalhes do processo, e tão pouco poderia discutir as questões processuais ou técnicas por não ter conhecimento para isso. Mas as questões de fundo desse contexto eu conheço, pois são das pessoas, da vida e do processo de adoecimento de que passamos.

Já disse diversas vezes que TUDO tem a ver com a saúde ou, pelo menos, tem a ver com perdemos a saúde. Fico imaginando o histórico familiar de um homem que se sente no direito de, por anos, torturar sua família a tal ponto de ela reagir queimando-o em legítima defesa! Quantas feridas essas pessoas precisam cicatrizar e tratar para romper essas fortes e destruidoras emoções que viveram. Porque os modelos, infelizmente, se repetem, e por isso nossa sociedade não se liberta de seus problemas crônicos como racismo, machismo e a violência.

Eu apanhei da minha mãe, e ela ameniza suas culpas dizendo que sou boa filha e que as surras serviram para me fazer ser uma pessoa boa. Será? Será que a violência traz paz? Liberta o amor? Ou liberta o ódio?

As respostas são tão óbvias! Amor gera amor, raiva vai gerar raiva e violência gera violência. Mas, infelizmente, quando somos expostos aos extremos de nossas emoções, mostramos o que realmente somos. E daí externamos tudo aquilo que recebemos na nossa mochila da vida. Viver sob dominação da violência é muito doloroso, as marcas são fortíssimas e adoecem o corpo e a alma.

Essa história que acompanhamos à distância poderia ser o roteiro de um filme da vida real, desses que mostram a tortura diária dentro do berço da sociedade que é a família e que, de uma maneira extrema, existe uma libertação. Mas, a meu ver, essa libertação é ilusória, pois outras amarras foram construídas em torno dessas pessoas que essencialmente são boas, e que matar já é uma dor tão intensa que não precisa da prisão física.

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