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domingo, novembro 24, 2024

UFRGS participa de estudo de tratamento com plasma de vacinados contra o coronavírus

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) sinalizou na quinta-feira (27) que irá investir os R$ 298 mil necessários à realização de um estudo desenvolvido em conjunto pela UFRGS, a PUCRS, o Instituto de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HemoRio), vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, o Hospital Virvi Ramos, a Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul e a Feevale-RS.

Na última semana de maio, o HemoRio iniciou a coleta do plasma (parte líquida do sangue) de doadores que tenham recebido duas doses de vacina contra a covid-19, há pelo menos 14 dias. O material coletado será usado em ensaio clínico inédito – denominado Immuneshare MCTI – que irá testar uma nova opção de tratamento contra o Sars-CoV-2. Essa é a primeira pesquisa multicêntrica do Brasil a utilizar o plasma doado por pessoas com o esquema vacinal completo, para tratar pacientes no estágio inicial da doença com idade acima dos 40 anos. O objetivo de um tratamento desse tipo é transferir ao paciente um quantitativo de anticorpos suficiente para combater o vírus.

O estudo foi idealizado pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da UFRGS, Fabio Klamt. “A história começou em março de 2020, desde que eu mesmo tive a covid-19. Os primeiros ensaios não foram muito animadores, mas nesse último ano, a gente aprendeu muito sobre a doença e também sobre como usar o plasma.”

O pesquisador conta que a ideia é obter as doações de plasma do pessoal da área da saúde, por isso o HemoRio ficou responsável pelas coletas. “Metodologicamente, esse ensaio está no padrão de qualquer estudo mundial, pois estamos sendo rigorosos. Além de adotarmos todo o processamento normal que uma bolsa de sangue ou de plaquetas desse tipo recebe, faremos ainda a neutralização de todo e qualquer microrganismo presente nesse plasma. Claro, contamos com a certificação de qualidade do HemoRio”, explica o docente.

Serão tratados 380 pacientes, atendidos em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da rede de saúde do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, que tenham confirmado a infecção pelo coronavírus, e estejam no máximo no terceiro dia de sintomas, sem necessidade de internação hospitalar, desde que concordem em participar da pesquisa. Desse total, metade receberá a transfusão de plasma, a fim de que possa ser feita uma análise comparativa da eficácia do produto. A escolha dos pacientes que receberão o plasma ou farão o tratamento convencional será aleatória, por sorteio, um procedimento padrão em pesquisas científicas.

Histórico

Em 2020, Fábio esteve a frente de outro estudo que utilizava plasma convalescente de pessoas que haviam contraído o coronavírus, desenvolvido no município de Caxias do Sul. “Como era um estudo experimental, só pudemos tratar pacientes graves. Esse foi o foco de 90% dos estudos naquele momento”, recorda, acrescentando que entre os doadores convalescentes, apenas 4% atingiam o valor limiar de anticorpos necessários, para que a bolsa de plasma pudesse ser classificada como hiperimune, conforme estabelecido pela FDA.

Hoje, sabe-se que é na primeira fase da doença, em que ocorre a chamada viremia máxima, que a imunização passiva deve agir melhor. Fabio relata que há um estudo recente bastante promissor, publicado em março deste ano no New England Journal of Medicine por colegas da Argentina: “Os argentinos têm boa experiência no tratamento com plasma sanguíneo, por conta dos problemas com a febre hemorrágica. E esse estudo mostrou que, se administrarmos bolsas de plasma com altos índices de anticorpos em até 72 horas desde início dos sintomas, há um impedimento da progressão de doença leve para doença grave de até 70% desses pacientes. Isso foi como o Santo Graal para nós!”, comemora, acrescentando que espera obter resultados melhores no Brasil porque o grupo tratado no país vizinho era composto por maiores de 75 anos e com comorbidades. “Imagine o que podemos fazer entre jovens e adultos. É de se esperar que tenhamos uma mudança no jogo”!

A esperança, conforme o professor, é reduzir não só as taxas de mortalidade, mas também o número de internações, já que, atualmente, boa parte dos pacientes internados está na faixa etária entre os 30 e os 40 anos de idade, aliviando assim a pressão sem precedentes que temos vivenciado no SUS.

Matheus Medeiros
Matheus Medeiros
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