O problema de falta d’água na vila Garambéu, em Cerro Grande do Sul, tem sido recorrente nos últimos anos e todo verão a comunidade passa por esta dificuldade precisando fazer racionamento ou ficando muitas vezes sem abastecimento nenhum, conforme vem ocorrendo desde o último dia 23 de dezembro. Muitos moradores não estão recebendo regularmente em casa a água potável para beber ou utilizar nas lides domésticas.
A falta de investimentos de qualquer ordem no sistema de captação da água e distribuição entre os domicílios, aliado ao aumento do consumo pelo crescimento natural da comunidade só piora o problema que segue sem solução e quem sofre são os moradores, como Brenda Viegas que junto com sua sogra Lenara Cardoso produzem pães e bolos pra vender, mas como a água não chega durante o dia elas precisam deixar a limpeza toda pra fazer na madrugada quando o abastecimento retorna temporariamente.
Outro exemplo da dificuldade enfrentada na comunidade é o da família de Loriciane Romeu que precisou recorrer aos vizinhos pra dar banho nos filho e lavar louça e roupas de uso diário.
“Trabalho em Porto Alegre e quando cheguei em casa, no dia 23, já vi que não tinha entrado água na caixa, mas ainda conseguimos juntar um pouco pra usar. Já quando retornei pra trabalhar ficamos completamente sem água. O Daniel (esposo) teve que levar os guris pra tomar banho no vizinho e trouxe de lá uns litros de água pra pelo menos beberem”, contou Loriciane.
Indignada com a situação ela criou um grupo no WhatsApp intitulado “Queremos água!!!” onde adicionou moradores do Garambéu pra discutir o assunto e buscar solução.
Com a organização na rede social o problema ficou ainda mais evidente pelos diversos relatos de famílias queixando-se da deficiência. Muitos depoimentos de moradores com residências onde moram crianças ou pessoas idosas que precisam contar com a ajuda dos vizinhos para conseguir um pouco de água.
A iniciativa da criação do grupo de WhatsApp resultou em uma reunião na Câmara de Vereadores na tarde desta segunda-feira (30), quando um grupo de moradores aproveitou a promoção de uma sessão legislativa extraordinária para cobrar dos vereadores ações que resolvam definitivamente o problema de abastecimento na comunidade.
Os moradores queixaram-se da falta de atenção do poder público com as demandas da comunidade, reclamando que o Garambéu é um dos maiores centros industriais e produtivos do município e grande gerador de impostos, mas que não tem recebido o retorno devido.
Os vereadores também se manifestaram relatando algumas tentativas frustradas de resolução do problema da água em Garambéu nos últimos tempos, incluindo um recente estudo da Corsan para assumir o serviço de abastecimento, mas que acabou não se efetivando. Também outras solicitações de recursos ao Governo do Estado para a perfuração de poços e construção de redes de abastecimento, das quais não se obtiveram retornos.
O comerciante Rubens Schaidhauer (Tutuca) se pronunciou em nome do grupo e foi incisivo ao cobrar dos vereadores iniciativas que produzam resultados.
Da reunião ficou encaminhada a organização de uma associação de moradores do Garambéu de modo que haja uma entidade legalmente constituída com cadastro de pessoa jurídica CNPJ que ajude na captação de recursos para investimentos, bem como a formação de um núcleo de pessoas que acompanhe os processos para que a demanda não permaneça ociosa.
No domingo, 29 de dezembro, uma equipe do setor de obras da prefeitura municipal iniciou um processo de abastecimento emergencial de água na comunidade, a partir do empréstimo pela Defesa Civil do Estado, de vasilhas adequadas para o transporte, que garantam a qualidade da água para o consumo.
Diariamente têm sido transportados cerca de 27 mil litros de água que são despejados no reservatório da vila. Do ponto de captação do local tem sido possível se acumular por dia cerca de 30 mil litros de água. O volume total é liberado aos moradores num sistema de racionamento controlado pelo responsável pelo setor.
O prefeito Sergio da Costa reconhece o problema, mas discorda e diz que não é verdade quando dizem que fazem mais de dois anos que a comunidade sofre por falta de água. Ele afirma que foram somente nos últimos dois anos que tiveram racionamentos e falta efetiva, por conta das grandes estiagens que tingiram inclusive a sede municipal.
Já quanto as medidas emergenciais para resolução do problema nesta ocasião o prefeito informou que está sendo construída uma nova estrutura em um outro ponto de captação em uma sanga cedida por um morador local. Os canos já foram adquiridos e a partir da quinta-feira, 02 de janeiro, quando o expediente público voltar ao normal, os trabalhos devem seguir para montar a rede de abastecimento que será ligada a outra já existente.
O administrador afirmou também que a medida emergencial com o transporte de água seguirá durante o feriado. Disse ainda que a administração municipal está sempre empenhada em conseguir soluções.
Ainda em 2015 o Governo do Estado, através da então Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) chegou a fazer um estudo atendendo a uma solicitação da secretaria municipal de Planejamento, para perfuração de dois poços artesianos em Garambéu, num convênio entre estado e município que não chegou a ser efetivado, já que na oportunidade o município não disponibilizou a contrapartida financeira, cerca de R$ 20 mil, que seria utilizado para a construção da rede de abastecimento.