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quarta-feira, janeiro 29, 2025

A Fumicultura e a Emancipação de Chuvisca: A Luta e o Progresso de um Município

No coração de Chuvisca, o cultivo de fumo não é apenas uma atividade econômica, mas uma história de superação e transformação. Mário Waldir, com 43 anos de experiência na orientação agrícola, reflete sobre a trajetória dessa comunidade, que, ao longo de décadas, passou de dificuldades imensas para um crescimento que se reflete tanto no desenvolvimento da agricultura quanto na conquista da independência política.

A história de Chuvisca e sua conexão com a fumicultura começa nas décadas de 60 e 70, quando o município ainda lutava contra a falta de infraestrutura básica. As estradas eram precárias, a eletricidade não chegava a todas as casas, e os agricultores se viam limitados por uma realidade dura. Mário, que se tornou um dos grandes nomes da fumicultura local, lembra-se de como as primeiras orientações para o cultivo de fumo eram simples, com o fumo de galpão sendo a principal forma de produção. Contudo, a mudança veio com a introdução do fumo Virgínia, mais adaptado ao clima da região, que trouxe prosperidade para os pequenos produtores.

Nos anos 80, a fumicultura já tinha se consolidado como a principal fonte de renda em Chuvisca. Foi nesse cenário que Mário iniciou um trabalho de campo com diversos agricultores locais, como Heitor Tutchentagen, que, assim como tantos outros, viu na produção de fumo uma forma de sustento e progresso. As dificuldades não eram apenas nas lavouras, mas também na locomoção. Mário percorreu distâncias de mais de 50 quilômetros por dia para atender os agricultores, utilizando uma moto Yamaha em 1981, o que lhe permitia um maior alcance para fornecer as orientações necessárias.

A década de 80 também marcou o início das festas que uniriam a comunidade em torno de objetivos comuns. Com o crescimento da produção de fumo, os primeiros eventos locais começaram a surgir, como as quermesses que visavam arrecadar fundos para a construção de um centro administrativo, o prédio que hoje abriga a Secretaria da Agricultura. Esses eventos, porém, não tinham apenas um caráter social. Durante as discussões sobre esses eventos, um movimento emancipatório foi tomando forma. Era 1989 quando começaram os primeiros passos para a criação de Chuvisca como município independente de Camaquã.
A luta pela emancipação foi árdua, com uma primeira tentativa frustrada em 1991, quando o plebiscito não obteve a aprovação popular necessária. A dificuldade maior estava na extensão territorial, que incluía áreas muito distantes de Chuvisca, perto de Camaquã.

Porém, a persistência de líderes locais como Mozart Pereira Meirelles, que se tornou um baluarte da emancipação, levou à reavaliação do território. Na segunda tentativa, já com as fronteiras do município reduzidas, Chuvisca conseguiu a aprovação popular, e a cidade ganhou sua independência. A fumicultura desempenhou um papel crucial nesse processo, sendo a principal atividade que impulsionou a economia local.

Com a emancipação, Chuvisca entrou em uma nova fase, com melhores condições de infraestrutura, estradas mais acessíveis e maior desenvolvimento no comércio. Hoje, o município conta não só com a fumicultura, mas também com a pecuária, que é um outro pilar da economia local. Jefferson Jacobsen, por exemplo, é um dos grandes exemplos dessa nova era. Ele não só trabalha com fumos, mas também se dedica à pecuária, utilizando tecnologias como a inseminação artificial para melhorar o rebanho. A propriedade de Jefferson, que também trabalha com cria, recria e engorda, reflete a diversificação das atividades agrícolas de Chuvisca.

Além disso, o município tem se dedicado ao melhoramento genético do rebanho, utilizando touros de ponta e práticas modernas de inseminação artificial. Isso tem permitido a melhoria não apenas do gado da propriedade de Jefferson, mas também do rebanho de outros produtores da região. A pecuária, junto com a fumicultura, se tornou uma força econômica importante para a cidade, trazendo novas perspectivas para o futuro.

O legado de Mário Waldir e de tantos outros agricultores e lideranças locais é claro: Chuvisca não seria o que é hoje sem o trabalho e a dedicação das pessoas que apostaram na fumicultura como motor de desenvolvimento. Mário, mesmo após sua aposentadoria, segue orientando e ajudando a comunidade, mantendo seu compromisso com a melhoria contínua do setor agrícola. Ele expressa sua gratidão aos agricultores, afirmando que o sucesso do município é resultado do esforço coletivo, pois “não adianta uma pessoa fazer o município sozinho”. Sua visão é clara: Chuvisca prosperou devido à união de todos os seus moradores, que, juntos, enfrentaram dificuldades e alcançaram grandes conquistas.
Chuvisca, portanto, é um exemplo vivo de como a união, a persistência e o trabalho árduo podem transformar uma pequena comunidade em um município independente e próspero.

A fumicultura, embora tenha sido o motor inicial do progresso, deu lugar a uma economia mais diversificada, que agora inclui a pecuária e outros setores, todos caminhando lado a lado, rumo a um futuro mais promissor.

Veja mais na entrevista: https://youtu.be/TKXvYQLtLNI

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