Nesse período de pandemia e de isolamento social, os hábitos alimentares também estão passando por um processo de mudança, tanto no produzir, como no comercializar e principalmente no consumir. Manter cuidados com a higiene pessoal, planejar as refeições e as compras semanais e garantir uma nutrição adequada são algumas dicas divulgadas pela Emater/RS-Ascar, até mesmo para evitar a transmissão do vírus, e que defendem a diversificação da alimentação e a criatividade nos novos hábitos.
Os cuidados com a alimentação também são importantes para fortalecer o organismo, que enfrenta constantes oscilações climáticas. Nas últimas semanas, por exemplo, a população do Rio Grande do Sul presenciou dias frios, com granizo e geada, e dias abafados e quentes, incomuns para a estação do inverno, mas que têm ocorrido com maior frequência.
Independente de temperatura ou estação, ao planejar as refeições, nunca é demais lembrar dicas básicas, como observar a validade dos alimentos e definir o cardápio de forma a aproveitar os alimentos de forma integral, evitando o desperdício.
“Esses dias de distanciamento social podem ser importante para dedicarmos mais tempo para o preparo da alimentação, testando receitas saudáveis e gostosas a partir de alimentos da época, que inclusive são mais baratos. E envolver toda família, despertando a criatividade de crianças e jovens na elaboração das refeições”. A sugestão é de Leila Ghizzoni, extensionista rural social da Emater/RS-Ascar e nutricionista, ao defender “um prato com várias cores, incluindo maior variedade de frutas, verduras e legumes, e os alimentos in natura, que devem ser a base de toda alimentação”.
Para colaborar neste momento com a prevenção da transmissão do vírus, evitando a circulação desnecessária, é interessante optar por compras coletivas na família ou em condomínios. Fazer pedidos para cooperativas ou grupos de comercialização com entrega em casa também é uma opção que aproxima e favorece agricultores e consumidores, já que muitas associações e mesmo produtores assistidos pela Emater/RS-Ascar passaram a oferecer encomendas virtuais e entregas em casa ou nas feiras, no sistema pague e leve. “Devemos priorizar as cadeias curtas e adquirir de produtores locais ou em feiras, impulsionando a economia local e reduzindo o desperdício de produtos durante o transporte”, salienta Leila.
A nutricionista defende ainda a manutenção de uma horta ou, para quem tem espaço, um pomar em sua casa ou propriedade, “uma opção interessante nesse tempo de pandemia e que apresenta muitas vantagens, como alimentos e temperos frescos, da estação, e a terapia de plantar, cuidar e colher, envolvendo crianças e adultos nesse cuidado”.
A produção caseira de alimentos, seja através de hortas urbanas ou em pequenos espaços, favorece uma alimentação saudável, pela proximidade de consumir alimentos frescos, in natura, e saber a procedência e qualidade dos mesmos. “É importante evitar o consumo de alimentos ricos em calorias e ultraprocessados, pois o organismo, nesse isolamento, diminuiu o gasto calórico no dia a dia”, avalia Leila. Ela explica que, “ao ingerir mais calorias do que precisamos, aumenta o risco de adquirirmos vários problemas de saúde, como a obesidade”. A nutricionista destaca que no manuseio dos alimentos permanecem os cuidados como lavar bem as mãos com água e sabão e higienizar frutas, legumes, verduras e as embalagens antes de armazenar.
REFEIÇÃO PLANEJADA
Confira e priorize alguns alimentos de época
Inverno – Frutas cítricas: bergamota, carambola, jabuticaba, kiwi, lima, limão e morango. Verduras: agrião, brócolis, chicória, couves, espinafre, louro, mostarda, orégano, recolha, rúcula e salsão; Legumes: aipim, cará, cogumelos, ervilha, inhame, mandioquinha, nabo, pinhão e rabanete.
Primavera – Frutas: abacaxi, acerola, ameixa, figo, framboesa, manga, jabuticaba, kiwi, lima, mamão, maracujá, morango, pêssego e uva. Verduras: alface, brócolis, couves, espinafre, hortelã, mostarda, orégano, repolho, salsa e salsã. Legumes: aspargo, berinjela, beterraba, chuchu, ervilha, mandioquinha, nabo, pepino, pimentão, rabanete, tomate e vagem.
Verão – Frutas: abacate, abacaxi, carambola, coco, figo, framboesa, goiaba, limão, mamão, maracujá, melancia, melão, pera, pêssego e uva. Verduras: acelga, agrião, alho, alface, cebolinha, couve, repolho, rúcula e salsa. Legumes: aipim, berinjela, beterraba, cará, chuchu, gengibre, inhame, milho, nabo, pepino, pimentão, rabanete e tomate.
Outono – Frutas: abacate, ameixa, bergamota, caqui, carambola, kiwi, limão, maracujá, mamão, morango, pera e uva. Verduras: alface, almeirão, brócolis, louro, nabo e repolho. Legumes: Aipim, berinjela, beterraba, chuchu, ervilha, gengibre, inhame, milho, pepino, pimentão, rabanete e tomate.
“Importante destacar que a prioridade é o consumo dos alimentos da época, mas, para garantir a diversidade e o aproveitamento de alimentos que estiverem baratos numa estação, podem ser preparados e consumidos ao longo do ano, congelados ou preparando geleias, compotas e conservas, entre outras possibilidades”, indica Leila.
SEMANA DA ALIMENTAÇÃO NO RS
O Dia Mundial da Alimentação é celebrado no dia 16 de outubro, data estabelecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que define uma temática para cada ano.
No RS, todos os anos é realizada a Semana da Alimentação com muitas atividades e debates. Neste ano, a Semana da Alimentação acontece de 12 a 18 de outubro e é organizada pela Emater/RS-Ascar, conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea/RS) e o Regional de Nutricionistas da 2ª Região (CRN-2), Associação Gaúcha de Nutrição (Agan), Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional (Fesans/RS) e o Governo do Estado, representado pela Secretaria de Trabalho e Assistência Social (STAS), com a colaboração de outras entidades.
Com a temática “Segurança Alimentar e Nutricional: estratégias e ações integradas em tempos de pandemia”, a Semana da Alimentação faz um chamamento para a solidariedade de ajudar as pessoas mais vulneráveis, através de estratégias e ações integradas no enfrentamento à situação de insegurança alimentar.
“Nesse momento de pandemia é necessário pensar estratégias articuladas de forma que a população seja igualmente atendida e possamos minimizar a situação de insegurança alimentar. Apoiarmos esses verdadeiros ‘heróis da alimentação’, os agricultores e trabalhadores do campo, que garantem que os alimentos cheguem da terra à mesa de todos”, analisa Leila.
A extensionista avalia que o isolamento/distanciamento social provocado pelo novo coronavírus pode ser considerado uma oportunidade de inovar e reconstruir as relações de compra e venda de alimentos, a exemplo da plataforma de comercialização Feira Virtual da Agricultura Familiar (Fevaf) , desenvolvida pela Emater/RS-Ascar e Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), que tem mais de 90 mil visualizações e 900 empreendimentos cadastrados, conectando agricultores e cooperativas e agroindústrias da agricultura familiar a consumidores gaúchos. “É preciso também repensar a distribuição dos alimentos através dos programas sociais e das iniciativas de solidariedade”, finaliza.