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Cerro Grande do Sul
quarta-feira, novembro 27, 2024

Animais em situação de rua preocupam moradores de Cerro Grande do Sul

Nos últimos anos, o número de animais abandonados vem crescendo consideravelmente no município de Cerro Grande do Sul (RS). O assunto tem sido pauta entre os moradores da cidade. Muitos munícipes se solidarizam e buscam ajudar esses animais em situação de abandono, no entanto, uma solução definitiva tem sido cada vez mais almejada.

Ao Portal ClicR, a veterinária Nicole Drebes comentou que o primeiro passo para solucionar o problema é conscientizar a população a respeito da posse responsável e controle de natalidade desses animais. Segundo Nicole, a castração é a melhor maneira de evitar ninhadas indesejadas e, consequentemente, o abandono.

“Ainda não temos [no município] nenhum projeto de castração em andamento, mas essa é a saída”, afirmou a veterinária. “Estamos cobrando isso dos nossos vereadores”, acrescentou.

Na última segunda-feira (26), o assunto foi abordado na sessão ordinária da Câmara Municipal. Na ocasião, os vereadores mencionaram a criação da Indicação 0018/2021, encaminhada ao Poder Executivo em agosto do ano passado.

Por meio do documento, os parlamentares sugeriram a criação de um programa de castração para animais abandonados e pertencentes a famílias em vulnerabilidade social.

De acordo com a vereadora Karen Eymael, o projeto não foi aplicado devido a falta de iniciativa do Executivo Municipal. “Para fazer essa indicação nós [vereadores] nos reunimos. Eu conversei com a veterinária para ver qual era a melhor saída para o município e também com vereadores de municípios vizinhos que já têm projetos dando certo. A gente entregou ‘redondinho’ o que seria adequado para a nossa realidade, o que poderia funcionar aqui de início com um custo pequeno e dar um resultado já com os primeiros passos para atender essa demanda. Resultado? Nada”, disse Karen.

“Eu preciso defender essa Casa e dizer que tudo que estava ao nosso alcance nós fizemos”, concluiu a vereadora, informando também que a Casa Legislativa realizou alterações na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) (Projeto de Lei 0031/2022) para incluir a castração de animais.

Maus-tratos
Ainda durante a sessão da Câmara, a vereadora Claudia Coutinho fez um alerta à população a respeito dos maus-tratos aos animais. “Eu sei que [a situação de abandono] é um problema sério, grave. Concordo, a gente tem que tentar resolver, mas acho que não com hostilidade. Os animais que estão na rua, eles não têm culpa, eles foram abandonados”, disse.

Claudia também falou sobre os moradores do município que, voluntariamente, ajudam os animais de rua. “As pessoas que cuidam, que tratam esses animais, também não são culpadas, estão fazendo um ato de solidariedade, humanidade, não tem que ser criticados. Acho que esse lado humano a gente não pode perder. A gente tem que procurar uma solução, mas não de forma hostil”, mencionou.

“Eu entendo, o poder público tem responsabilidade de criar um projeto de controle de animais, porque é um problema de saúde pública, mas enquanto isso não acontece nós temos que ajudar também”, acrescentou a parlamentar.

O crime de maus-tratos é inafiançável e a pena pode variar de 2 a 5 anos de prisão.

Depoimentos
O Portal ClicR conversou com alguns munícipes de Cerro Grande do Sul que, enquanto atuantes da causa animal, compartilharam suas experiências.

A cabeleireira e empresária Marcia Oliveira falou que o abandono de animais é um problema que tem crescido no município. “Apesar de muitos moradores serem prestativos, fazerem vaquinhas e doações para ajudar animais doentes e na castração dos mesmos, parece que cada vez mais pessoas acabam tratando os animais como se fossem descartáveis”, comentou.

“Eu, por exemplo, tenho quatro cachorros em casa, sendo uma adotada das ruas. No salão tenho outra, a conhecida Gorda, que nós cuidamos, alimentamos e damos um lar. Faço o que eu posso para ajudar, assim como várias outras pessoas da cidade, mas é cada vez mais necessário que a gente tenha apoio dos órgãos públicos, pois é um problema da comunidade”, relatou Marcia.

O atual cenário também tem preocupado a jornalista Bruna Pacheco. “A situação dos cachorros de rua na nossa cidade é algo que vem crescendo diariamente. Eu, que busco ajudar sempre que possível, percebo que a cada dia tem uma ‘carinha’ nova andando por aí”, falou Bruna.

“É muito triste, já que existe um projeto de castração e de amparo para esses cães, mas o poder público parece não se importar. Então, fica por conta da população estender a mão. Sorte que aqui temos muitas pessoas de bom coração e que não medem esforços para ajudar”, acrescentou a jornalista.

Carmen Laux, servidora pública, também compartilhou a sua experiência com a causa. “Nós já lutamos há muitos anos por essa causa. Já fizemos um sopão onde [com o dinheiro arrecadado] pudemos castrar vários animais, mas agora está ficando insustentável a situação”, comentou.

“Na minha rua trato seis cachorros, sem contar no pátio da Agricultura [secretaria municipal], que são mais três. Ainda, quando coletamos lixo, eu distribuo comida para alguns que ouvem o barulho do trator e vêm correndo porque já conhecem”, afirmou.

Carmen ainda fez um pedido para que o problema venha a ser solucionado. “Gostaria muito do apoio da população. Vacine os seus animais, castrem, e se não tiverem condições de tê-los, não peguem, porque depois abandonam”, disse. “Temos que ter uma solução mais rápida possível, pois a tendência é só aumentar. Temos que montar uma ONG com a ajuda do poder público. Isso é uma questão de saúde pública”, concluiu.

O aumento de animais em situação de abandono também tem chamado a atenção da agrônoma Loren Eymael. “Me impressiona e me entristece como tem aumentado o número de cachorros nas ruas da cidade. Tenho a impressão que as pessoas estão cada vez mais corajosas de abandonar, mesmo que agora tenham leis mais rígidas para esse tipo de situação”, disse.

A respeito da criação de um canil municipal, Loren acredita que esta não seria a solução mais viável no momento. “Sinto que aí sim o número [de animais abandonados] aumentaria, pois as pessoas teriam esse ‘amparo’. Acredito que deveria ser feito mutirões de castração a baixo custo, ou até mesmo sem custo algum para a população mais carente que tenha animal de estimação. Dessa forma, evitaria muitos abandonos de filhotes”, argumentou a agrônoma.

Joanice Mücke, professora estadual e municipal, também compartilhou a sua vivência com a causa animal. “Sempre me preocupei abertamente com esta questão dos animais abandonados. Alimento cães de rua sempre que passam em frente à minha casa. Não consigo ver e fingir não me importar com a tristeza que carregam pela fome e maus tratos de que são vítimas”, disse Joanice.

A professora também concorda que esta é uma questão de saúde pública.

“Tem muitas maneiras apresentadas em proposições por vereadores para se tentar amenizar esse problema. Temos veterinária no município, tem local para se montar um aparato para castrações pela prefeitura […] falta apenas esses projetos saírem do papel, da gaveta do Executivo”, opinou.

A nutricionista Telice Medeiros também lamentou que os trâmites para a solução do problema estejam parados. Ela exemplificou de que maneira o problema que afeta os animais também pode afetar a população. “Se a pessoa é atacada, e ferida, ela precisa ir na unidade de saúde procurar por atendimento, e a gente consegue mostrar claramente que é um problema de saúde pública”, afirmou.

O Portal ClicR entrou em contato com o prefeito municipal, mas até o momento não obtivemos retorno.

Adoção
Uma campanha de adoção responsável está sendo realizada no município de Cerro Grande do Sul. Aqueles que tiverem interesse em adotar algum dos animaizinhos disponíveis, podem entrar em contato com o Portal ClicR pelo telefone (51) 99583 2444, que nós encaminharemos a solicitação para os responsáveis.

Confira os cachorros disponíveis para adoção:

 

Na manhã desta segunda-feira (3), o Executivo Municipal entrou em contato com o Portal ClicR e informou que o assunto está sendo analisado pela gestão a fim de atender os anseios da população.

Matéria atualizada às 10h52 de segunda-feira para acréscimo de informações.

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