Por Elias Kuch e Volnei Wruch Leitzke – engenheiros agrônomos do Escritório Regional da Emater de Porto Alegre
Na última semana de fevereiro foi desencadeado pela Emater/RS-Ascar, em conjunto com a Seapdr-RS, o programa Avançar na Agropecuária e no Desenvolvimento Rural – eixo estratégico do Irriga + RS, que objetiva viabilizar a construção de 6.025 açudes de armazenamento de água em todo o Estado.
Na micro região Centro Sul do RS a precipitação anual é de em média 1500 a 1600mm, ou seja, durante um ano chove em torno de 1500 a 1600 litros em 1m² (1m x 1m). É um volume considerável em comparação com algumas outras regiões do país que têm média de até 500mm/ano. Contudo, anualmente as culturas e criações, fundamentais para economia como um todo, tem sido afetadas por recorrentes estiagens, em menor ou maior grau conforme o ano. Ocorre que no verão temos o aumento da temperatura, da radiação e conseqüentemente da demanda hídrica por parte das principais culturas de verão (o milho pode demandar até 8mm/dia), resultando em perdas de potencial produtivo. Outro fator complicador é que cada vez mais a chuva tem ocorrido associada a eventos extremos, onde freqüentemente a precipitação média de um mês (100 a 130mm) advém em um único dia, alternado com períodos de escassez por semanas.
Muito se avançou na compra de equipamentos de irrigação através de financiamentos, desde pequenos sistemas até grandes projetos, incluindo gotejamento, aspersão, carretéis de irrigação, inundação, e até sistemas de pivô central. Porém a demanda de reservação de água para viabilidade destes sistemas pode ser muito grande, e em cenários de agravamento da estiagem, observa-se o colapso destes projetos. Para tanto, torna-se evidente a necessidade de avançarmos fortemente na proposição de formas racionais e economicamente viáveis de acúmulo deste excedente de água em períodos de inverno, para sua utilização na primavera/verão. Além da serventia agrícola, há também um forte beneficio ambiental no sentido de infiltração desta água em períodos secos, repondo o subsolo e proporcionando a utilização por animais da fauna silvestre, abelhas, entre outros.
Em primeiro lugar, é fundamental que o agricultor compreenda a importância da construção de reservatórios de água, no contexto de infra-estrutura básica da propriedade. Não é raro encontrar a recusa na construção de açudes devido aos proprietários considerarem uma perda de espaço produtivo. Um grande gargalo na construção de reservatórios escavados nesta região diz respeito às características de solo e subsolo na região, onde o solo predominante, o Argissolo e Neossolo, freqüentemente apresentam baixo teor de argila e em alguns casos, horizonte rochoso muito próximo a superfície, o que acarreta em diversos casos a inviabilidade na construção, devido a infiltração da água acumulada. Para tanto, se torna necessário a avaliação técnica na proposição de outras possibilidades, como o uso de cisternas, geomembrana, utilização da água dos telhados, bem como o correto dimensionamento dentro da propriedade, observando outros fatores no projeto como distância e altura nano métrica deste reservatório, consumo de diesel ou energia elétrica, assim como também a qualidade desta energia elétrica. Nesta avaliação técnica, pode-se chegar a conclusão da viabilidade da irrigação em apenas uma parte da área, conduzindo a reorganização dos sistemas produtivos e uso das áreas, pensando alternativas numa perspectiva global de gestão da propriedade, como por exemplo, destinar as áreas mais criticas para pastagens perenes, culturas florestais, ou integração pecuária/floresta.
Aspectos construtivos do açude e subsolo precisam ser avaliados tecnicamente, em alguns casos o uso da retro escavadeira hidráulica retira toda a camada mais argilosa do centro do açude, expondo a bacia de acumulação de água a uma condição de alta infiltração e perda desta água. Sendo assim, em muitos casos se faz necessário repor esta camada argilosa, que auxilia na redução de infiltração do volume acumulado.
Falando em armazenamento de água, é essencial entendermos também a grande capacidade dos solos agrícolas em armazenar água, a forma mais eficiente e barata que temos, sendo que em média 1m3 de solo bem manejado (1mx1mx1m) pode armazenar 300 litros d’água. Solos bem manejados com plantas de cobertura, descompactação e manejos conservacionistas que aumentem a micro porosidade e matéria orgânica, são um grande aliado do agricultor tornando o solo uma grande espoja, que irá liberar a água necessária para as plantas no momento adequado. E a palhada resultante de culturas anteriores, funciona com um cobertor, reduzindo a temperatura do solo e mantendo também a água por mais tempo.
Considerando todos estes aspectos acima elencados, os escritórios da Emater da região juntamente com as prefeituras estão empenhados na seleção e elaboração de cerca de 200 projetos neste ano que se somam a mais de 500 construídos ao longo dos últimos anos, sendo importante lembrar que somado ao processo de construção destes açudes, ainda se faz necessário seguir todas as recomendações da legislação ambiental.
Para maiores informações sobre o assunto e os serviços de apoio ao agricultor que a Emater/RS-Ascar pode te oferecer, entre em contato com o escritório mais perto de você.