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Cerro Grande do Sul
sexta-feira, novembro 22, 2024

As comunidades sulcerrograndenses e suas origens

 

Neste ano, no dia 12 de maio, o município de Cerro Grande do Sul chegou aos seus 33 anos de independência política e administrativa com uma população estimada em 12.413 habitantes, de acordo com dados do IBGE do ano de 2020.

Até receber sua denominação definitiva o município foi conhecido por outros nomes desde o início da formação do povoado, por volta de 1910. Primeiro foi Colônia Rio Grande, depois Fortaleza, em virtude do formato do cerro próximo a sede que hoje ainda é conhecido pelo mesmo nome e que lembra uma fortaleza. Posteriormente se chamou Cerro Grande, 3° distrito de Tapes, quando foi elevado à categoria de vila, em 1938. Este nome foi recebido em referência ao que hoje é conhecido como Cerro da Antena, ponto culminante da zona Sul do Estado.

Carreiramento na localidade de Fortaleza, atual Av. Cel. Arthur E. Jenisch no centro de Cerro Grande do Sul – Foto: Acervo Casa da Cultura de C. G. Sul

Cerro Grande do Sul é um município característico do interior e com poucos bairros urbanos, entretanto formado por dezenas de comunidades rurais, algumas com nomes curiosos, outros até comuns, mas cada um deles com sua particularidade e origem através das quais muitas vezes é possível conhecer a identidade local através de sua história.

Ao longo destas três décadas de emancipação algumas comunidades novas foram surgindo e se somando a outras já existentes. Para resgatar essas origens o Portal ClicR estará preparando uma série de reportagens que vai revelar como surgiram os nomes de cada uma delas. Para começar vamos falar de Pessegueiros e Picada da Cruz.

A formação da comunidade de Pessegueiros

Muitas pessoas atualmente questionam onde estariam as árvores que conferem nome a comunidade, sugerindo que deveria existir um vasto pomar de Pessegueiros no local. Contudo a referência se deu em função de uns poucos pés desta frutífera, mas que proporcionavam boa sombra e que serviam como ponto de encontro e descanso aos cargueiros que cruzavam a região transportando mercadorias em mulas ou carroças, no início do século XX.  O lugar também se destacava por ter água em abundância de fácil acesso e vasta pastagens para os animais.

Os cargueiros eram comerciantes que cruzavam a localidade levando produtos em suas carroças ou em seus jacás (espécie de balaio com tampas) ou bruacas (sacos ou caixas de couro), dependurados de cada lado do lombo dos animais. Sobretudo cascas de aroeira para fabricação de tanino ou erva-mate, produtos abundantes na região. Havia inclusive na comunidade os barbaquás, utilizados por estes viajantes para a secagem da erva.

O rancho na foto é um barbaquá antigo no centro da comunidade – Foto: Colaboração/Silene Pacheco

Como grande parte das localidades de interior Pessegueiros também se desenvolveu entorno da religiosidade e uma das atividades que se destacava na comunidade era a “Festa do Padre”, por conta da visita do padre à comunidade a cada seis meses. Na oportunidade era celebrada a missa e oferecidos os sacramentos aos moradores locais. Os padres se deslocavam da cidade de Camaquã para atender a comunidade.

Construção da capela Santo Antônio inaugurada em 1950. Recentemente desmanchada após a construção da nova igreja ao lado. Na foto estão Osvaldo Pacheco, Dario Rodrigues, Juventino Barbosa (Juvita) e Ari Isquierdo. Ainda se destacam na construção do prédio os moradores Alfredo Sager e Tulio Escaranto. Foto: Colaboração/Silene Pacheco

As primeiras famílias que viveram em Pessegueiros foram os Souza da Silva, Curtinaz, Pacheco, Decavatá, Figueira Dias, Lopes e Medeiros.

O desenvolvimento em Pessegueiros

Durante muito tempo os moradores Felícia Decavatá e Antônio Curtinaz Pacheco, o Antoninho, cuidavam da saúde das pessoas com medicações homeopáticas, receitadas por indicações de um livro que Antônio herdou de seu pai Vicente de Souza Pacheco. Relatos de moradores antigos dão conta que até microcirurgias eram realizadas.

Ao centro o casal Manoela e Antoninho com o bebê Iolanda. Os da esquerda são: Filomena (Nena), Bruno, Ordalina (irmã de Antoninho) e Osvaldo. Seguem à direita: Afonso, Inácio e Vicente.

A primeira sala de aula da localidade foi na casa de Dirceu Gomes Leal que também criou o time de futebol “Grêmio Ubirajara”, que mais tarde se tornou nome de um clube social com sede na comunidade. Por volta de 1930, Antoninho, com ajuda de outros moradores locais, tiraram madeira de suas matas nativas e construíram um imóvel que ficou conhecido como “Casa Branca”, e que serviu de escola, salão de baile e capela.

Time do Grêmio Ubirajara. Identificados: 01 – Miro Ceron, 02 – Heitor, 03 – Tucano, 04 – Foguinho, 05 – Vilson, 06 – Paulinho, 07 – Valdir Guisio, 09 – Pedro, 10 – Esposa do Miro Ceron, 11 – Silon, 12 – Maurício, 13 – Augusto, 15 – Luiz Afonso | Os números 08 e 14 não foi possível identificar – Atrás do time (entre os n° 04 e 05) é Agnaldo. Obs.: O números foram usados para identificação e não correspondem aos das camisetas. Foto: Colaboração/Silene Pacheco

A formação do povoado de Picada da Cruz

Os registros históricos mostram que a comunidade de Picada da Cruz teve início por volta do ano de 1900, quando um grupo de famílias, a maioria imigrantes alemães, se instalou naquele local, na época conhecido como Picada do Herval. A origem destes colonizadores pode ser verificada por seus sobrenomes: Lindenau, Patro, Ladwig, Witzoreck, Grudzinski, Kaminski, Schmidt, Kuck, Sonemann, Bürke, Schultz, Bonnes, Bridi, Sander e Grübel.

A comunidade criou raízes definitivas quando na perspectiva da manutenção de suas tradições, os novos moradores logo se organizaram entorno de uma igreja e de uma escola objetivando manutenção da fé e da religiosidade, além de garantir a educação das novas gerações e sobretudo preservar os elementos culturais.

Foto do início do século XX com os primeiros moradores de Picada da Cruz reunidos na Casa Pastoral que servia de moradia ao pastor, escola e templo religioso.

Logo os novos moradores manifestaram o desejo de serem atendidos por pastores luteranos, então por meio das famílias Lindenau e Kaminski, que tinham parentes membros da Comunidade Evangélica Luterana Cristo em Porto Alegre, foi intermediada a visita do estudante de teologia Emílio Neumann e assim realizou-se o primeiro culto, nesta localidade.

Em 07 de agosto de 1921, realizou-se o culto de instalação de Alberto Drews, o primeiro pastor da comunidade. Após a cerimônia houve uma reunião em que foi fundada a Comunidade Evangélica Luterana da Picada do Herval, que na época pertencia ao município de Dores de Camaquã (Sentinela do Sul) e mais tarde se tornou Comunidade Evangélica Luterana São João de Picada da Cruz.

Logo depois da fundação da comunidade foi construída uma casa que durante alguns anos serviu de moradia do pastor, de escola e também local onde eram realizados os cultos. A igreja da comunidade iniciou sua construção em 1937 e foi inaugurada em 1938.

Já em 1985 o grupo de moradores luteranos da localidade ligados a IECLB iniciaram um movimento para construção de uma igreja na localidade, pois frequentavam templos no município de Sertão Santana. Em maio de 1992 o empreendimento religioso foi inaugurado com a realização de um culto e no ano seguinte batizado com a denominação de Comunidade Cristo Rei.

Fotos: Acervo das famílias e da Casa da Cultura de Cerro Grande do Sul

Uma cruz na picada

Os caminhos abertos em meio a mata nativa, com foices, machados e facões sempre receberam o nome de “picada” e à beira de uma destas, no início do século XX, não se sabe bem em que ano, foi cravada uma cruz. A partir desta referência a localidade que era antes chamada de Picada do Herval, passou a ser conhecida como Picada da Cruz, por volta de 1938.

Símbolo religioso que dá nome a comunidade de Picada da Cruz é preservado pela família de João Geraldo Correa da Silva, o saudoso João da Cruz.

Também não se tem registros oficiais do porque a cruz ter sido fixada naquele local, contudo os relatos mais comuns entre moradores mais antigos é de que um negrinho que fazia a poda de um pé de erva-mate caiu do alto da árvore e faleceu ali.

A velha cruz de madeira também emprestou nome à moradores, como era o caso do seu vizinho da frente João Geraldo Correia da Silva, conhecido popularmente como João da Cruz. Durante anos, enquanto era vivo, seu João cuidou do artefato religioso, lição que deixou de herança aos seus filhos que recentemente substituíram a cruz velha e avariada pela ação do tempo por uma nova de concreto, preservando assim a tradição antiga e um pedaço da história local.

Fontes pesquisadas:
=> História oral (moradores locais)
=> Casa da Cultura de Cerro Grande Sul
=> Trabalhos acadêmicos

Cicero Omar da Silva
Cicero Omar da Silva
Chefe de Redação e Departamento de Vendas Portal ClicR e jornal Regional Cel/Whats: 51 99668.4901

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