O WhatsApp, aplicativo de mensagens número um do Brasil e com mais de 2 bilhões de usuários no mundo, começou desde meados de janeiro a enviar uma notificação sobre mudanças em sua política de privacidade.
O texto prevê mais detalhes sobre o compartilhamento de dados com o Facebook, dono do app.
A comunicação sobre os novos termos gerou dúvidas, reações negativas e preocupação com a privacidade. Aplicativos Concorrentes como o Telegram e Signal foram baixados milhões de vezes após essa alteração.
Entenda abaixo o que se sabe e o que falta esclarecer sobre essa alteração.
O que o WhatsApp anunciou?
- Isso significa que o WhatsApp e o Facebook podem ler minhas mensagens?
- Por que o app não garante a privacidade em chats com empresas?
- O que mudou na nova política?
- O que o WhatsApp compartilha com o Facebook?
- Desde quando o WhatsApp compartilha informações com o Facebook?
- Eu posso escolher não compartilhar dados com o Facebook?
- Por que o WhatsApp coleta esses dados?
- O que diz o WhatsApp?
- Como saber se autorizei o Facebook a acessar meus dados do WhatsApp?
O que o WhatsApp anunciou?
O aplicativo passou a exibir, no começo de 2021, uma notificação sobre mudanças em sua política de privacidade.
No documento, há novidades sobre o compartilhamento de dados com o Facebook, dono do app.
As pessoas precisavam concordar com os novos termos até 8 de fevereiro para continuar usando o WhatsApp, mas o prazo foi estendido e a política só entrará em vigor em 15 de maio.
Isso significa que o WhatsApp e o Facebook podem ler minhas mensagens?
Não. Conversas entre duas contas comuns ou em grupos não podem ser lidas pelo WhatsApp, Facebook ou qualquer terceiro.
O aplicativo usa criptografia ponta a ponta, o que significa que somente o remetente e destinatário podem ver a mensagem.
A nova política de privacidade, porém, deixa de garantir essa proteção em conversas com contas comerciais, aquelas usadas por empresas (entenda mais abaixo).
Por que o app não garante a privacidade em chats com empresas?
Imagine, por exemplo, uma grande varejista que ofereça atendimento pelo WhatsApp. Os atendentes não respondem por um celular, mas por ferramentas que gerenciam os chats.
Essas ferramentas são vendidas por empresas de tecnologia. Algumas delas, certificadas pelo Facebook, oferecem opções de hospedagem dos diálogos com clientes.
Como existe um terceiro armazenando e gerenciando interações com empresas, o WhatsApp não consegue garantir a criptografia ponta a ponta para esses chats.
O app se defende dizendo que avisa os usuários e que a conversa com uma conta comercial é opcional.
Quando uma pessoa inicia um chat com essas contas, o aplicativo exibe um aviso no topo do chat que diz “você está conversando com uma conta comercial”.
A partir de agora, o Facebook também vai oferecer essa hospedagem. A novidade foi anunciada em outubro e a nova política de privacidade aborda com mais detalhes as interações com empresas.
Outra mudança na política prevê que dados gerados nessas interações podem ser usados pelas empresas para direcionar anúncios no Facebook e no Instagram.
Foi só isso que mudou?
Não. O WhatsApp afirma que as novidades da política de privacidade estão centradas em interações com empresas, mas o novo texto prevê a coleta de dados que não estavam presentes na versão anterior do documento.
Entre eles: carga da bateria, operadora de celular, força do sinal da operadora e identificadores do Facebook, Messenger e Instagram que permitem cruzar dados de um mesmo usuário nas três plataformas.
O trecho sobre dados de localização também foi modificado e diz que “mesmo se você não utiliza nossos recursos relacionados à localização, usamos endereços IP e outros dados como códigos de área de número de telefone para calcular sua localização geral”.
O que o WhatsApp compartilha com o Facebook?
Entre os dados que o WhatsApp compartilha com o Facebook mencionados em sua política de privacidade estão:
- Informações de registro, como o número de telefone;
- Endereço de IP;
- Informações sobre o dispositivo utilizado (modelo, nível da bateria, força do sinal, versão do aplicativo, informações do navegador, rede móvel);
- Dados de transações e pagamentos;
- Informações sobre como você interage com outros, incluindo empresas (o tempo, a frequência e a duração de suas atividades e interações, nunca o conteúdo);
- Relatórios e registros de desempenho.
Segundo a companhia, as informações podem ser usadas para:
- Ajudar a aprimorar os sistemas de infraestrutura e entrega;
- Entender como os serviços são usados;
- Promover proteção, segurança e integridade em todos os produtos;
- Aprimoramento dos serviços e experiências, incluindo sugestões para os usuários (como a recomendação de conteúdos, conexões de grupos ou amigos);
- Integração para conectar o WhatsApp com outros produtos do Facebook.
O último item cita integração com o Facebook Pay, base do sistema de pagamentos do WhatsApp,, que chegou a ser testado no Brasil no ano passado, mas foi barrado pelo Banco Central e pelo Cade.
Desde quando o WhatsApp compartilha informações com o Facebook?
Desde 2016. Foi quando o WhatsApp apresentou a primeira grande mudança em sua política de privacidade – dois anos depois de ter sido comprado pelo Facebook.
Na época, foi revelado que o mensageiro começaria a compartilhar informações com a rede social.
Eu posso escolher não compartilhar dados com o Facebook?
Atualmente, não.
As pessoas que usavam o WhatsApp em 2016 podiam negar a troca de dados com o Facebook, mas tiveram apenas 30 dias para aproveitar essa opção. Novas contas, por outro lado, não podiam escolher.
Muitas pessoas compartilham os dados com o Facebook desde 2016.
Com a nova mudança da política, em 2021, e o ultimato para aceitar as novidades, ficou a sensação de que esse compartilhamento de dados passaria a ser obrigatório para todos, mesmo para aqueles que negaram em 2016.
O WhatsApp disse ao G1 que continua respeitando a escolha dos usuários que decidiram não compartilhar seus dados naquela época. Porém, esse ponto não é citado em nenhum trecho dos termos do aplicativo.
Para saber se você está compartilhando informações com o Facebook, é preciso baixar dados de sua conta (veja como fazer abaixo).
Por que o WhatsApp coleta esses dados?
Embora o WhatsApp mostre em sua política quais são os fins da coleta de dados, não há um detalhamento individual.
Representantes da Coalizão Direitos na Rede, um grupo de entidades acadêmicas e da sociedade civil em defesa dos direitos digitais, disseram ao G1 que estão em contato com o WhatsApp para entender as novidades e que ainda há lacunas.
“A política de privacidade não explica quais os motivos específicos da coleta de alguns dados. O documento diz quais informações são obtidas e para qual finalidade podem ser usados no geral, mas não dá para entender a finalidade para cada uma dessas coletas”, afirmou José Renato, membro da Coalizão Direitos na Rede.
Segundo ele, há contradições. O app publicou, recentemente, uma página com perguntas frequentes alegando que protegia a privacidade dos usuários e que a companhia não poderia ver a localização dos usuários, mas a redação da política diz outra coisa.
O que diz o WhatsApp?
A repercussão fez com que o WhatsApp se manifestasse, reforçando que o conteúdo de mensagens e ligações é protegido por criptografia e não pode ser acessado pela companhia, e que os dados que são compartilhados entre ele e o Facebook permanecem os mesmos desde 2016.
“Esta atualização não muda as práticas de compartilhamento de dados entre o WhatsApp e o Facebook, e não impacta como as pessoas se comunicam de forma privada com seus amigos e familiares em qualquer lugar do mundo”, disse o aplicativo em um comunicado enviado ao G1.
Como saber se autorizei o Facebook a acessar meus dados do WhatsApp?
O WhatsApp explica que para saber se em 2016 um usuário aceitou compartilhar suas informações com o Facebook, é preciso baixar informações de sua conta do app. Veja o passo a passo:
1 – Abra o WhatsApp;
2 – Acesse as Configurações (menu de três pontos no Android ou em Ajustes no iPhone);
3 – Toque no item “Conta” e selecione “Solicitar dados da conta”;
4 – O relatório com seus dados será disponibilizado em três dias.
Por G1