O ano novo começou, mas velhos problemas permanecem na região no que se refere ao fornecimento de energia elétrica.
A precariedade da infraestrutura pela falta de investimentos e manutenção, mais a deficiência das equipes de assistência técnica, resultam em grandes transtornos aos usuários que acumulam prejuízos e não sabem bem a quem recorrer para reclamar seus direitos.
A falência do sistema é evidente na medida em que são frequentes as interrupções no fornecimento de energia e que algumas comunidades rurais chegam a permanecer mais de 96 horas sem o restabelecimento do serviço.
Em menos de 20 dias muitas localidades de Cerro Grande do Sul, Barão do Triunfo, Sertão Santana, Mariana Pimentel, Sentinela do Sul e Camaquã, sofreram por duas vezes seguidas com a falta de luz, justamente em um período em que os produtores de fumo estão no auge da colheita e dependem da energia elétrica para a secagem do produto.
Tem sido comum registrar na região a ocorrência de estufadas inteiras de tabaco manchados por conta da interrupção da energia que compromete o funcionamento do sistema fazendo com que o calor diminua durante o processo de secagem permitindo assim que a umidade se espalhe pelas folhas e comprometa a qualidade final do produto, interferindo diretamente no valor de mercado que pode ter uma queda de até 60%.
O fumicultor Cristiano Ramos de Freitas, de Raia do Ipê, em Cerro Grande do Sul, já pensa até em desistir da planta de fumo, devido aos problemas enfrentados. “Vou tentar mais uma safra, mas se continuar assim vou parar de plantar. Não vale a pena”, afirmou desanimado.
Nesta safra ele já precisou utilizar o gerador à diesel por diversas vezes, mas o equipamento que é adequado para atender emergências tem sofrido o desgaste de ficar por horas ligados e acabou por também dar problema.
“Ficamos três dias sem luz e estávamos com duas estufas ligadas ao gerador. Não consegui dormir durante as noites cuidando, pois os fios esquentam e o risco de incêndio é grande. Também deu problema no eixo cardan ligado ao trato que precisei consertar, além da despesa com o diesel que nesta safra já soma mais de R$ 3 mil”, conta Cristiano.
Em Barro Preto, localidade de Cerro Grande do Sul junto a divisa de Camaquã, o agricultor Sergio Schumacher de Araújo, foi outro que teve de apelar ao gerador à diesel, porém ele contou que se solidariza ainda mais com seus vizinhos que não possuem o equipamento e que tiveram muito prejuízo com fumos manchados.
Sergio fala indignado da precariedade da rede de distribuição que passa pela localidade que há anos não recebe melhorias.
“Fazem mais de 20 anos que moro na mesma propriedade e nunca vi uma melhoria sequer na rede. Tem postes podres que é capaz de cair se empurrar com a mão. Os fios são velhos e devem estar fracos. É uma vergonha e uma falta de respeito com quem paga pra usar esse serviço”, desabafa o produtor.
O comerciante Luiz Carlos Souza, da vila Brasino, em Cerro Grade do Sul, vai além da questão de prejuízos materiais em suas reclamações, pois considera também o desgaste emocional de quem vê os problemas se gravarem com a falta de energia.
“[…onde vai parar a falta de respeito com os consumidores, a irresponsabilidade da CEEE, a falta de capacidade de gerenciamento?] […onde não importa os prejuízos, o stress que são submetidos àqueles que pagam o preço determinado unilateralmente, sem que se possa reclamar ou discutir o valor, e oferecerem um serviço que não atendem com satisfação aos usuários]”, questiona o comerciante.
Na gerência da CEEE de Tapes quando questionados sobre os problemas de falta de energia na região a resposta foi de que a situação é “caótica” e que eles estão buscando ajuda em Porto Alegre para fazer os atendimentos.