Quem vê aquele veterano da política sentado em sua poltrona, por vezes pensativo e com olhar calmo, outras agitado e querendo interagir, tem logo a certeza que a história por trás daquele semblante se funde com a da comunidade onde ele vive e que ajudou a construir.
Prestes a completar 79 anos no próximo dia 25 de agosto, Hélio Coutinho Rodrigues construiu uma longa e sólida trajetória na vida pública em Tapes.
De origem pobre e família simples, filho de Francisco Rodrigue e Eva Coutinho, nasceu na comunidade de Cerro da Antena, em Cerro Grande do Sul, no ano de 1942, na época terceiro distrito de Tapes. Com cinco anos de idade mudou-se com a família para a localidade de Potreiro Grande, que pertence atualmente ao município de Sentinela do Sul e um ano depois seguiu para Tapes, morar na Rua General Osório, no bairro Vila Borges.
Já em criança foi ficando conhecido na cidade por seu modo inquieto e determinado de ganhar a vida quando abordava os moradores para oferecer as laranjas que revendia pela rua no contraturno da escola.
Ainda criança, aos sete anos de idade trocou de família quando foi adotado pelo casal Raimundo Gonzalez e Irene Maria Donadel Gonzalez, proprietários de um sítio às margens da cidade, às margens da Av. Assis Brasil, já quase na ERS-715. Raimundo foi um dos mais importantes construtores civis da época, tendo erguido diversos prédios importantes na cidade, além de prestar serviços em diversas cidades pelo Estado.
Em uma época de poucos recursos logísticos e tecnológicos Hélio interrompeu os estudos ainda pequeno e permaneceu trabalhando com seus pais adotivos. Só mais tarde, aos 21, anos concluiu o 5º ano escolar, por meio do supletivo. Criado com muitas responsabilidades ele nunca teve vida fácil e ao longo da vida exerceu diversas atividades, incluindo o trabalho em lavouras de arroz, servente de pedreiro e carroceiro. Com o pai adotivo aprendeu tudo sobre construção civil e se tornou pedreiro, profissão que foi seu ganha pão durante muitos anos. Do ano de 1963 a 1973 foi funcionário da Corsan, em Tapes.
História como ciclista
No esporte, quando jovem, Helio se arriscou no futebol, mas se destacou mesmo foi no ciclismo e fez fama na modalidade tendo sido campeão por 12 vezes seguidas em competições locais, as quais eram muito disputadas por diversos competidores no final da década de 1950 e início de 1960.
Fotos: Acervo da família
“Eu ia a Porto Alegre de manhã e voltava a tarde pra treinar. Em 1963 fui a Camaquã disputar um torneio e tirei o primeiro lugar. Não achei quem me levasse então fui de bicicleta daqui até lá, pra participar da corrida que teve um percurso de 60 km. Trouxe pra casa uma bicicleta zero km”, conta com orgulho.
A família
Aos 22 anos (1964) casou-se com Mariza do Carmo Vieira Pereira e aos 26 foi pai pela primeira vez, quando nasceu o primogênito Hélio Fernando, que antecedeu os irmãos Luis Fernando, Fernanda e Heloisa.
Com muito trabalho e dedicação Hélio e a esposa conseguiram comprar um terreno na cidade, no ano de 1975, onde moram atualmente. Na época construíram uma casa de madeira e instalaram um comércio de alimentos, o Açougue e Mercearia São Borja, que perdurou por 16 anos.
Já em 1990 o casal arrendou um campo na localidade rural de Butiá e logo adquiriu a propriedade quando decidiu ir morar no interior com os filhos.
A trajetória na política
Bastante ligado a vida rural, Helio produzia, batata doce, mandioca, frutas e verduras no seu sítio e distribuía muito desta produção entre as pessoas de sua comunidade na cidade. Por diversas oportunidades foi “festeiro”, organizando eventos em diferentes comunidades religiosas e contribuindo para o desenvolvimento destas entidades.
Foi impulsionado pela sua popularidade e atenção com as pessoas que ele entrou para a vida política e chegou à Câmara de Vereadores pela primeira vez na eleição de 1988. No parlamento Helio sempre demonstrou um temperamento forte, com manifestações simples, mas muito objetivas em defesa das demandas essenciais da sua comunidade, cobrando periodicamente do Executivo Municipal ações que resolvessem os problemas pontuais da cidade, como atendimento em saúde, investimentos em educação, infraestrutura urbana e assistência social.
No Legislativo municipal cumpriu sete mandatos, cinco deles pelo PDT e dois pelo PPB (atual Progressistas), somando 28 anos de atividade na Casa de Leis e com isso se tornando o vereador que mais tempo exerceu a função na história do município. Na eleição de 2016 chegou a concorrer ao oitavo mandato, mas acabou não obtendo os votos suficientes para tanto.
Enquanto vereador Helio presidiu a Casa de Leis em duas oportunidades e numa delas chegou a assumir a cadeira do Executivo municipal por seis dias, numa ocasião em que o prefeito e o vice precisaram se afastar para resolver assuntos fora do município.
Seu legado foi além dos limites do parlamento com inegáveis contribuições nos mais diversos setores da sociedade tapense onde segue sendo reconhecido e querido por todos.
Outra paixão do político tapense eram as corridas de cavalo, por isso iniciou um movimento que culminou na fundação do Jockey Clube de Tapes, em setembro de 2002, tendo sido presidente da entidade até o ano de 2008.
O peso da idade somado às complicações de saúde impede Helio de seguir tomando iniciativas em prol de sua comunidade. Hoje recolhido ao lar ele recebe os cuidados da esposa e dos filhos e desfruta do carinho de sua comunidade demonstradas através das inúmeras visitas que recebe e que o ajudam a passar o tempo.
“Sempre fui um homem que trabalhei pelo meu povo. Hoje recebo a visita de muitas pessoas e elas fazem eu recordar do que vivi no passado. Estou por casa curtindo a vida. Deus vai me ajudar a ficar bom ligeiro”, comenta.