Os altos salários oferecidos pelo mundo do futebol são com certeza um dos grandes incentivos para quem tenta uma carreira profissional no esporte. Entretanto a paixão da garotada pela bola geralmente vem antes disso, quando ainda nem sabe direito o valor do dinheiro.
O gosto em vencer disputas locais por troféus, medalhas ou até refrigerantes nas quadras de chão, escolinhas de futebol ou em campos surrados de gramado ralo é o que forja um atleta e o faz buscar um sonho maior a cada desafio.
Essa é a definição em que se encaixa a história do garoto Douglas Silva Raphaelli, 15 anos, natural de Barão do Triunfo e que atualmente está atuando na categoria de base do Avaí Futebol Clube, na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina.
Desde bem pequeno, na localidade de Arroio Grande, onde morava com os pais Silvio Raphaelli e Solanje Pereira da Silva, o garoto sempre gostou de bater bola em todas as suas horas de folga. Aliás, ele afirma que sua inspiração vem do irmão mais velho, Wellerson, 24 anos, que também segue carreira como jogador e recentemente atuou defendendo o gol do Aquidauanense, de Mato Grosso do Sul.
Da mesma forma espelhado no irmão e impulsionado pelos seu 1,91 metro de altura, Douglas sempre preferiu jogar como goleiro e aos poucos foi mostrando que tinha jeito para a posição. Quem também afirma essa condição é seu antigo professor de futebol, Igor de Araújo Jukowski que comanda a escolinha do clube Cruzeiro do Sul, de Barão do Triunfo, onde o garoto treinava.
“Douglas foi meu aluno entre os anos de 2018 e 2019, na escolinha. Ele já era um menino que se destacava com sua qualidade atuando como goleiro, sempre foi muito dedicado com as atividades e os treinamentos, buscando aprender e se qualificar ainda mais. Também posso exaltar a sua educação, pois conheço ele desde pequeno. É um menino brilhante que tem um ótimo futuro pela frente. Me sinto orgulhoso em ter participado um pouco nesta trajetória que está apenas começando e tem tudo para dar certo”, comenta o professor.
O isolamento social imposto pela pandemia no início de 2020 afetou de vez essa garotada que até mesmo da escola foi afastada. Forçados ao ensino remoto e impedidos de fazerem aquela junção sadia pra bater uma bolinha os guris tiveram seus treinos prejudicados.
Mas foi nesse período de pandemia, em novembro de 2021, que a sorte sorriu para Douglas quando ingressou na escolinha de futebol do Grêmio de Porto Alegre e teve uma foto sua atuando como goleiro publicada pelo seu irmão Wellerson em uma rede social da internet. A imagem foi vista por um amigo dele que é treinador de goleiros e integra a assessoria do ex-jogador do Grêmio, Douglas (xará do garoto), que hoje é empresários de futebol. Ele se interessou pela atuação e ofereceu oportunidade para o jovem baronense participar de um teste em Porto Alegre, no qual foi aprovado e seguiu treinando.
Após um tempo treinando na capital gaúcha surgiu a oportunidade de participar de uma peneira no Avaí, em Florianópolis, onde o garoto ficou durante uma semana sendo avaliado e mais uma semana fazendo novos testes com a equipe da base do Sub-15 do clube, até que fosse aprovado definitivamente.
Depois disso ele retornou para casa, em Barão do Triunfo, para ajustar com a família a sua ida em definitivo para Santa Catarina, onde se apresentou ao clube novamente em 21 de fevereiro deste ano, e permanece trabalhando.
Extremamente contente com a chance recebida Douglas garante que vai se dedicar ao máximo para aproveitá-la. O clube oferece alojamento, academia refeições e organiza os horários dos garotos de modo que eles possam frequentar a escola e realizar os estudos.
Ele comenta sobre sua nova rotina diária que tem as manhãs livres para descansar e realizar tarefas escolares, a tarde é reservada para os treinos, sejam em campo com bola ou na academia, e a noite vai para a escola, onde está cursando o 1º ano do ensino médio.
O que não pode evitar, relata o garoto, é a saudade dos pais, mas garante que já entendeu que esse é um sacrifício pelo qual passam todos que decidem correr atrás de seus sonhos longe de casa e que isso faz parte da vida de um jogador de futebol, sobretudo nos primeiros passos.
Do outro lado estão Silvio e Solanje, que também revelam que sofrem com a ausência dos filhos, mas que decidiram apoiar os sonhos dos garotos e acreditam que estão fazendo o melhor que podem neste sentido.
“Usamos a tecnologia para diminuir a saudade, nas conversas no WhatsApp e com os vídeos que nos mandam. Dessa forma vamos acompanhando a rotina, orientando e torcendo por eles aqui de longe”, comenta o pai.
Questionado sobre seu sonho, Douglas foi simples e objetivo: “Me tornar jogador profissional”. Para tanto o garoto diz que se espelha no goleiro Weverton, que atualmente defende o Palmeiras, pela sua forma de ser focado na carreira.