Um dos temperos indispensáveis na culinária do brasileiro, o alho é produzido no Brasil principalmente no cerrado, região Central do país, porém no Sul a produção vem ganhando espaço e conquistando mercado pela boa qualidade.
Há cinco anos um grupo de agricultores de Cerro Grande do Sul decidiu investir no cultivo desta hortaliça, tendo buscado orientações técnicas e opções de mercado na região da Serra Gaúcha, mais especificamente nos municípios de São Marcos e Flores da Cunha onde a plantação já está consolidada há anos.
Como em qualquer experiência na diversificação agrícola, o cultivo do alho no município exigiu dedicação e persistência, com altos e baixos no decorrer do período. O grupo de produtores diminuiu, mas os poucos que restaram comemoram o desenvolvimento de suas lavouras nesta safra.
É o caso do produtor Ademar Anderle, um dos que sempre incentivou o cultivo e neste ano plantou 1,6 hectares da hortaliça. Ele garante que o alho é um bom negócio e que tem obtido bons lucros, considerando os investimentos e o tempo dedicado ao cultivo. Como comparativo o agricultor considerou uma de suas lavouras de um hectare onde o investimento deve chegar a R$ 30 mil, incluindo semente, fertilizantes, defensivos, diesel e mão de obra (inclusive a contratada para plantio e colheita). Desta área ele estima colher 10 toneladas e acredita que o preço médio por quilo deve variar entre R$ 8,00 e R$ 10,00 para a comercialização.
Experiência
O produtor explica que a cada ano a produção vem melhorando em função da experiência adquirida no que se refere aos tratos culturais e diz que o alho exige pouca mão de obra, porém monitoramento intenso para que a aplicação de insumos ocorra na hora certa.
“Este ano, por exemplo, já não tenho a concorrência do inço, pois aprendemos qual produto utilizar e em qual momento aplicá-lo. São adaptações de acordo com o solo e o clima local que vamos identificando para aperfeiçoar as práticas. As variações climáticas também precisam ser observadas, uma vez que em tempo frio e seco teremos que prevenir ou tratar a ferrugem, já em períodos chuvosos o problema é a bacteriose, a qual neste momento estamos combatendo com aplicação de cloro”, pontuou.
A colheita deve acontecer em novembro quando o alho vai para a secagem em estaleiros no galpão onde permanece por cerca de 45 dias para em seguida ser cortado e classificado para a comercialização.
Mercado
O mercado do alho obedece a lei de oferta e demanda, com interferência das importações, sobretudo da China, já que o Brasil produz apenas 45% do que é consumido no país, mas segundo dirigentes da Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa) a concorrência desleal com a China tem sido principal problema no setor de produção de alho nacional, sobretudo pela conivência do Governo brasileiro, uma vez que tem ocorrido decisões judiciais favoráveis a importadores, que permitem que o alho chinês entre no Brasil com preços abaixo dos praticados aqui.
A Anapa queixa-se de Bolsonaro por indicar recentemente ao Supremo Tribunal Federal exatamente o desembargador Kassio Nunes Marques, autor de decisões em favor da entrada de alho chinês, sem pagar taxas, sendo que o presidente, em vídeo gravado como pré-candidato ao lado do presidente da Anapa, criticou a indústria de liminares.
Em Cerro Grande do Sul, além de produzir Ademar garante a compra de toda a produção atual, e revela que tem capacidade de absorver ainda cerca de dez vezes mais do que é produzido atualmente.