O começo de tudo…
No interior do município de Barão do Triunfo, na pitoresca zona dos Pachecos, erguia-se um icônico salão de bailes: o Salão do Adão Sapo. Seu intrigante apelido, curiosamente, foi herdado do pai de Adão Nunes, o senhor Luiz Nunes. Nas animadas noites de baile, o patriarca ganhou o apelido ao saltitar com entusiasmo ao som de uma gaita, tornando-se carinhosamente conhecido como Luiz Sapo, futuramente passando seu apelido para seus filhos e netos, marcando gerações.
A história do Salão do Adão Sapo ganha ainda mais encanto ao remontar à infância de Adão Vieira Nunes e Juvina Soares Nunes. Seu primeiro encontro ocorreu durante os tradicionais eventos locais chamados “surpresinhas”. Estes consistiam em pequenas celebrações nas casas dos moradores locais, embaladas pelos acordes harmoniosos de gaitas e violões. Foi nesse cenário festivo que os destinos de Adão e Juvina se entrelaçaram.
De acordo com as memórias de Juvina, Adão destacava-se não apenas pela destreza nos passos de dança, mas também pelo respeito e modos cavalheirescos. Essas características foram os alicerces que atraíram Juvina, criando um laço especial que resistiu ao tempo.
Naquela época de costumes rígidos, Juvina revela que as mulheres mantinham um distanciamento restrito de seus futuros maridos até o casamento. Nenhuma troca de beijos ou carícias era permitida antes dessa união sacramentada.
A história de Juvina se entrelaça com uma jornada de trabalho árduo desde tenra idade, dedicada à criação de animais como galinhas, porcos e cabritos e serviço na lavoura. No entanto, quando sua mãe tentou impedir o casamento, insistindo que apenas um casal de cada animal poderia acompanhá-la, Juvina, apesar da hesitação e reflexão sobre abandonar os frutos de seu trabalho, seguiu seu coração e casou-se com Adão Sapo.
Apesar das objeções e falta de apoio parental, Juvina e Adão escolheram trilhar juntos o caminho do casamento. Essa união resistiu às convenções da época, desafiando a lógica dos casamentos arranjados. O amor entre eles floresceu, e dessa união surgiram três frutos: Jair, Oniria e Silvia, cada qual carregando consigo a herança única dessa história de amor resiliente.
Enfrentando as adversidades impostas pela vida inicialmente em um modesto casebre, tão pequeno que as refeições eram cozidas ao ar livre, inclusive em dias de chuva onde a fogueira se acendia dentro de uma lata, Juvina persistiu. Abençoada pela vida, a criação de animais logo prosperou, crescendo significativamente após o casamento.
Apesar das dificuldades iniciais, Juvina e Adão não recuaram diante dos desafios. Juvina, com suas mãos calejadas, arou as terras ao redor, e logo a colheita se tornou a materialização de seu esforço conjunto. Essa história, marcada por sacrifícios, coragem e trabalho incansável, reflete não apenas a força do amor entre Juvina e Adão, mas também a resiliência de uma mulher determinada a construir uma vida plena, superando as intempéries que a vida lhe apresentou.
A construção do salão
Após anos de trabalho incansável, Juvina e Adão Sapo conquistaram sua primeira propriedade, que se tornaria o renomado Salão de Bailes do Adão Sapo. A construção do salão foi concluída em 1972, e em 4 de maio de 1973, apenas um ano após sua fundação, o salão realizou seu primeiro baile.
A trajetória do salão ganha contornos fascinantes quando se sabe que os frequentadores, ávidos por diversão, percorriam a pé cerca de 12 a 13 quilômetros para participar dos eventos. Os bailes, à moda da época, começavam por volta das 23 horas e se estendiam até o clarear do dia. Surpreendentemente, as pessoas chegavam mais cedo, por volta das 16 horas, para desfrutar de paneladas de sopa, porco assado, cucas, doces em calda e bolos.
Com o desafio adicional da falta de energia elétrica na região naquela época, os bailes eram iluminados por liquinhos e lampiões.
Inicialmente, a música era tocada apenas com instrumentos, evoluindo ao longo do tempo para a incorporação de baterias de carros nos conjuntos, hoje conhecidos como bandas. Essa evolução musical marca não apenas o crescimento do Salão do Adão Sapo, mas também reflete a perseverança e adaptação da comunidade em busca de momentos de alegria e celebração.
O Salão do Adão Sapo, além de ser um local emblemático para bailes, tornou-se palco de inúmeros eventos locais, desde festas familiares a celebrações comunitárias. Ao longo dos anos, testemunhou a alegria de aniversários, a solenidade de casamentos, a pureza de batizados e confraternizações da comunidade. Cada festividade deixou sua marca, enchendo o salão de memórias compartilhadas e celebradas por aqueles que passaram por suas portas.
De acordo com o relato do filho Jair, o Salão do Adão Sapo encerrou suas atividades por volta de 1998. O encerramento coincidiu com o momento em que os filhos se casaram, e Adão, já idoso, assumia a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barão do Triunfo. A idade avançada e a saúde debilitada, somadas ao acúmulo de responsabilidades, impossibilitaram que Adão dedicasse a mesma atenção às famílias que frequentavam o salão. Lamentavelmente, Adão deixou-nos a 04 de Abril de 2010.
Assim, o Salão do Adão Sapo, que por anos foi o centro de celebrações e alegrias, encerrou suas atividades, deixando para trás um legado de memórias e contribuições significativas para a comunidade de Barão do Triunfo.
O fechamento marca o fim de um capítulo, mas as histórias e experiências vividas dentro daquele espaço continuam a ecoar na lembrança daqueles que compartilharam momentos especiais sob seu teto acolhedor.
Hoje, o antigo Salão do Adão Sapo, lozalizado na Zona dos Pachecos não pertence mais à família. As velhas paredes ainda permanecem de pé, recordando a todos que passam por ali as histórias vividas nos tempos de bailes animados. Mesmo inativo, o salão continua a contar sua história através das marcas do tempo.