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sexta-feira, maio 3, 2024

Mudanças na gestão do “hospital” de Tapes geram dúvidas

O setor de saúde de Tapes tem dado o que falar nos últimos tempos, sobretudo pela mudança implantada na gestão do Pronto Atendimento Nossa Senhora do Carmo, que foi terceirizada pela administração municipal e desde o dia 1º de fevereiro está sob o comando da Associação Hospitalar Vila Nova.

Ainda em maio de 2021, por conta de ter havido o rebaixamento do N.S. do Carmo da condição de hospital para Pronto Atendimento de Urgência (Padu), a administração municipal promoveu uma reunião na Câmara Municipal, para esclarecer à população as causas da alteração e explicar como ficariam os atendimentos na unidade.

Na ocasião o prefeito Luiz Carlos Coutinho Garcez garantiu que uma das metas da administração municipal era fazer com que a unidade de saúde (autarquia) retomasse a condição de hospital, mas que mediante a complexidade do problema este processo teria que iniciar do zero.

De lá pra cá o tema foi recorrente em debates políticos locais, até que a administração anunciou que estaria terceirizando o serviço. A medida foi colocada em prática mediante contrato emergencial de seis meses, com a aprovação da Câmara Municipal.

Todavia os debates não cessaram, haja vistas que restaram dúvidas sobre o processo, as quais foram externadas por vereadores em sessões na câmara, mas seguem sem respostas do Executivo municipal.

Os questionamentos são muitos, incluindo a legalidade do remanejo dos servidores concursados da autarquia para outras funções, qual o valor que está sendo pago para a associação Vila Nova, quais serviços estão sendo oferecidos à população no N.S do Carmo, como ficam os serviços de remoção com as ambulâncias municipais e SAMU, entre outros.

Os vereadores Japur Daniel e Evânia Nunes, do PDT, fizeram um pedido ao Executivo da cópia do contrato entre a prefeitura e a Associação Vila Nova, visando esclarecer dúvidas, contudo ainda não tiveram sua solicitação atendida.

Em entrevista à Rádio Tapense, exibida dia 02 de fevereiro, o prefeito Garcez revelou que pretende tornar definitivo este formato de gestão terceirizada do N. S. do Carmo, e que durante este período de contrato emergencial vai abrir um processo licitatório com esta finalidade prevendo um período maior de contrato que pode variar entre 10 e 20 anos, mas que isso ainda deverá ser definido.

Nesta quarta-feira (09/02), a administração municipal reenviou para a câmara Projeto de Lei nº 0016/2022 que propõe a extinção da autarquia N.S. do Carmo. O projeto já havia estado na Casa de Leis, mas havia sido retirado. Desta feita a matéria deverá tramitar com discussão e votação prevista para ocorrer dia 17 de fevereiro.

O projeto gerou novas dúvidas que foram levantadas pelo vereador Japur, o qual afirma temer os resultados deste planejamento, uma vez que entende não haver a transparência necessária em decisões que afetam diretamente as pessoas do município.

A vereadora Evânia também manifestou preocupação, dizendo que embora a administração municipal afirme que a Associação Vila Nova tenha interesse em seguir fazendo a gestão da saúde do pronto atendimento, com planos de transformar novamente a unidade em hospital, não há garantias para isso. Ela coloca que caso haja entraves neste processo os reflexos no atendimento em saúde podem ser desastrosos, uma vez que a autarquia não mais existirá.

O Portal ClicR esteve conversando com o vice-prefeito Eduardo Simchen que comandava a pasta municipal da Saúde até o final de janeiro, na tentativa de obter respostas, porém ele afirmou que não participou da condução deste processo e que não conhecia os detalhes do contrato ou das negociações entre prefeitura e Associação Vila Nova.

Na segunda-feira (07/02), através da assessoria de comunicação social da prefeitura tentamos falar com o prefeito Garcez e enviamos uma série de questões ao administrador. Num primeiro momento fomos informados que as perguntas seriam respondidas pela secretaria geral do gabinete, na terça (08/02). Na quarta-feira (09/02), ainda sem respostas, insistimos, quando recebemos o retorno de que o prefeito preferiu não se manifestar neste momento e que “vai esperar passar alguns dias observando o funcionamento pra se pronunciar”.

Servidores da autarquia publicam carta à população

Também na quarta-feira (09/02), uma carta aberta à população foi publicada nas redes sociais pelos servidores da autarquia Nossa Senhora do Carmo. A publicação denuncia a ocorrência de diversas irregularidades na unidade, além da demora no atendimento aos pacientes no pronto atendimento, ocasionada pela falta de profissionais e sobrecarga de trabalho aos que cumprem a escala.

Veja carta na íntegra

Carta aberta dos servidores do hospital Nossa Senhora do Carmo a população tapense 

Nós servidores públicos do HNSC viemos através desta carta esclarecer alguns fatos ocorridos na autarquia Municipal HNSC.

1°. Nos últimos meses do ano de 2021 ouve por parte do poder executivo a não renovação do contrato de trabalho de algumas técnicas de enfermagem gerando assim uma perda no quadro de trabalho.

Com isso fez que as técnicas que continuaram prestando serviço ao HNSC tivessem que aumentar suas cargas horárias gerando assim desgaste físico e psicológico pois tinham que cumprir 12 horas de trabalho e no dia seguinte ficar de plantão pra fazer remoções ou substituir alguma colega nas remoções, muitas vezes saiam pela manhã e retornavam no fim do dia ou tarde da noite e no dia seguinte tinha que estar as 07:00 da manhã.

2°. Na mesma época uma das enfermeiras pediu pra sair e não foi contratado ninguém para substituir gerando uma carga horária exaltante pois ficou apenas 3 profissionais para uma jornada de 48 horas tendo essas que se desdobrarem para dar conta. 

“Muitas das vezes ficando até sem fazer o seu intervalo pra almoço tanto enfermeira quanto técnicas passaram por essa situação e digo que inúmeras ocasiões”.

3°. Ao chegar no HNSC o primeiro contato se dava com a recepção onde era feito a ficha e como quem estava ali conhece nossos munícipes e até sabendo do histórico da pessoa ou se era uma gestante e ou qualquer outra coisa que fugia do normal o profissional alertava a enfermeira ou uma técnica pra que assim fora avaliado essa situação o mais rápido possível

4°. Pois bem feita a triagem o paciente ficava no aguardo do médico do plantão profissional esse que vinha na grande maioria de fora da cidade e muitos já de outros plantões em outras cidades aí chegamos no ponto por várias e muitas várias vezes tínhamos que chamar o médico que se encontrava no quarto de descanso “digo isso durante o turno do dia mesmo”.

Médicos que vinham reclamando que tinha que atender as consultas atendia 1, 2 ou 3 e voltava pro quarto lá tínhamos que ir chamar.

Outras vezes ficavam no telefone até com o paciente na cadeira dentro do consultório ou deixavam os pacientes na recepção enquanto assistiam filmes no computador do consultório ou simplesmente sumiam e novamente alguém tinha que andar atrás pra chamar os médicos. 

E nos finais de semana tem 2 médicos no plantão, mas o que eles faziam se revezavam de 3 em 3 horas pra cada ou atendiam juntos o mesmo paciente.

E assim ficávamos com 1 médico no plantão e os plantões de sexta-feira era o caos pois o plantonista empilhava gente deixando todos completamente perdidos. Quando questionávamos eles ficavam de cara braba xingando as enfermeiras e técnicas. 

Não tem como um plantão dar certo onde a principal peça não funciona, ou seja, será que as tais laranjas podres realmente saíram? 

Irão falar, mas se isso estava acontecendo porque não foi denunciada?

Pois respondemos que todos que deveriam saber sabiam e foi inclusive tema de denúncia em jornais locais e por vários posts nas redes sociais também foi feito reclamação dessa situação.

Desde já atenciosamente Funcionários da Autarquia do HNSC

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Cicero Omar da Silva
Cicero Omar da Silva
Chefe de Redação e Departamento de Vendas Portal ClicR e jornal Regional Cel/Whats: 51 99668.4901

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