Um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade da Columbia, nos Estados Unidos, apontou que a combinação entre dois antivirais, sendo Remdesivir e um para hepatite C — ambos aprovados para uso contra a covid-19 —, podem reduzir a replicação do SARS-CoV-2 em dez vezes mais do que quando usados separados.
O estudo foi divulgado terça-feira (22) na Communications Biology, publicação da revista científica Nature, e apontou que, quando combinados, os inibidores da polimerase e da exonuclease agem juntos para bloquear a capacidade do vírus se reproduzir nas células infectadas.
“Nós estudamos inibidores de uma enzima essencial para a biologia do Sars-CoV-2, a exonuclease, que permite maior estabilidade genética ao vírus e o ajuda a selecionar variantes virais, como aquelas que escapam da respostas imunes do organismo, por exemplo. A exonuclease seleciona o conjunto genético mais abundante do vírus e permite que cópias desse conjunto sejam replicadas, isso tudo em cooperação com outra enzima, a polimerase”, explica um dos coordenadores do estudo, Thiago Moreno Souza, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).
Com o objetivo de compreender formas de combater esses mecanismos, Souza, juntamente com sua equipe, desenvolveu um estudo de modelagem computacional, enzimático e celular, que mostraram que um grupo de moléculas aprovadas para tratar Hepatite C também pode inibir a exonuclease do novo coronavírus. Todavia, foram identificados que essa ação não ocorre em uma concentração ideal para combater o Sars-CoV-2. Souza diz que “essas moléculas atuam em uma diferença de mil vezes de potência, sendo muito mais potente contra o vírus da hepatite C”.
Os pesquisadores decidiram então estudar combinações de moléculas que pudessem trazer resultados mais positivos. Nesse caso, os inibidores de polimerase, como é o caso do Remdesivir, aprovado pela Anvisa e pela FDA para tratar Covid-19, mas ainda com eficácia clínica limitada. “Ao combinarmos os medicamentos que já eram conhecidos inibidores da RNA polimerase com as substâncias reposicionadas para bloquear a exonuclease, tivemos resultados promissores que merecem investigações aprofundadas do ponto de vista clínico”, explica Souza.
Se o resultado for confirmado em animais, o estudo poderá seguir para ensaios clínicos, pois os medicamentos avaliados têm aprovação para o tratamento de outras infecções.
Fonte: Portal Fiocruz