No dia 22 de outubro foi realizada em Sertão Santana uma inspeção em três localidades onde existem crateras no chão que são interligadas por baixo por túneis nos quais corre água. As crateras possuem profundidades de até 4 metros e os túneis geralmente tem menos de um metro de diâmetro e comprimentos de mais de cem metros.
A inspeção foi feita pelo senhor Célio Hollas e pelo Professor Heinrich Frank, do Instituto de Geociências da UFRGS, que participa do Projeto Paleotocas, uma iniciativa que congrega, há mais de 10 anos, professores de várias universidades. O coordenador do Projeto Paleotocas é o professor Francisco Buchmann, da UNESP.
Paleotocas são túneis cavados por animais pré-históricos de grande porte. Túneis menores, com diâmetros ao redor de 50 cm, são atribuídos a tatus gigantes, que chegavam a 270 quilos de peso. Túneis grandes, com até 2 metros de altura, 4 metros de largura e dezenas de metros de comprimento, são atribuídos a preguiças gigantes, que tinham o porte de um urso grande ou até mesmo maiores. Esses animais integravam a chamada Megafauna que vivia na América do Sul até aproximadamente 10.000 anos atrás e que incluía cavalos, lhamas (Paleolama), elefantes, camelídeos (Macrauchenia), um animal que lembra um rinoceronte (Toxodon), o tigre de dente-de-sabre e outros. As pesquisas realizadas nesta última década mostraram que nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul as paleotocas são bastante frequentes, tendo sido identificados mais de mil túneis, a imensa maioria completamente preenchida por areias e barro trazidos pelas águas das chuvas. Em outros estados brasileiros e em outros países da América do Sul as paleotocas parecem muito raras. Não são conhecidas paleotocas no Hemisfério Norte, como nos Estados Unidos ou Europa, por exemplo. Paleotocas são uma exclusividade da América do Sul, pelo que se sabe até agora.
Os túneis pesquisados em Sertão Santana, com seu diâmetro reduzido, provavelmente foram produzidos por tatus gigantes. Como possuem mais de 10 mil anos de idade e constantemente flui água em seu interior, ocorreu desabamento do teto, erosão do piso e entulhamento por areia e restos vegetais ao longo dos túneis, de tal maneira que em alguns trechos é possível ficar de pé ou entrar engatinhando. É necessário um certo cuidado ao entrar nas crateras e túneis em função da presença de morcegos, aranhas e eventualmente outros animais. Muito interessante é o grande comprimento destes sistemas: entre a última cratera morro acima e a ponte onde as águas emergem sempre se mede mais de 100 metros, sugerindo a existência de redes complicadas e extensas de túneis. A inspeção consiste em medir e fotografar os túneis na medida do possível. Não são realizadas escavações ou outro tipo de modificações do local. Em alguns casos os proprietários dos locais imaginam que possa ocorrer tombamento, interdição ou desapropriação da ocorrência, mas isso nunca foi feito nem há nenhum interesse em fazê-lo.
“A pesquisa de paleotocas aumenta nosso conhecimento sobre a pré-história, agrega dados sobre os animais que viviam antigamente na região, valoriza estas ocorrências e contribui para a pesquisa da Megafauna em geral. Desta maneira, há grande interesse em visitar outros locais em Sertão Santana e municípios vizinhos que se apresentam da mesma maneira: buracos no chão unidos por baixo, por túneis onde corre água”, explicou o professor.
O Prof. Frank solicita a comunidade que comunique eventuais outras ocorrências de paleotocas pelo e-mail: [email protected] ou pelo whats 51.99230-1397.