A Agência de Meteorologia e Oceanografia Norte Americana (NOAA) indica que o fenômeno La Niña no Oceano Pacífico está na iminência de seu fim. Tanto que a probabilidade de existir La Niña ou neutralidade está empatada no trimestre março-abril-maio.
Nos últimos dias, a Agência Australiana de Meteorologia indicou que o La Niña já acabou, apesar de admitir que algumas partes da atmosfera sobre o Pacífico ainda tinham uma fraca assinatura do La Niña. Enfim, normalmente a NOAA é mais conservadora em suas análises. O importante é olhar para frente e o cenário para o fim do outono e decorrer do inverno é de neutralidade, sem El Niño ou La Niña.
A chance de neutralidade sobe para 80% no trimestre maio-junho-julho, enquanto a de La Niña despenca para menos de 20% (o complemento dos 100% é uma chance de menos de 5% de El Niño). O próximo período úmido ainda é uma incógnita com relação ao predomínio de neutralidade ou de La Niña. Entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, aparece uma chance de 50% de La Niña e de 40% de neutralidade.
Olhando-se para a última atualização da simulação americana CFSv2, o Oceano Pacífico equatorial central até poderá esquentar levemente por volta de junho e voltará a resfriar posteriormente com desvio de menos de -0,5°C em dezembro. O aparecimento de uma temperatura levemente acima da média até meados deste ano era algo esperado, porque em profundidade, observa-se o rápido avanço de uma área de água mais quente que o normal e a supressão da área de água fria que manteve o La Niña nos últimos meses.
A questão é que embora esteja avançando muito rapidamente, a água não está muito mais quente que o normal. Então, aparentemente, ela não deverá se sustentar por muito tempo e dará lugar à água mais fria no fim do ano.
Bom, e sobre o clima? O que tudo isso implica? De acordo com a simulação CanSIPS, o trimestre abril-maio-junho será caracterizado por chuva abaixo da média em boa parte do Nordeste e no Centro e Sul do Brasil. No Centro e Sul do Brasil, o desvio negativo está ligado ao La Niña, mesmo que já em processo de término.
Uma atenção neste momento gira em torno da duração da chuva para a segunda safra brasileira, já que seu ciclo está bem mais atrasado que o normal. É importante informar que apesar da previsão de chuva acima da média em Mato Grosso, maior produtor de segunda safra de milho do Brasil, a precipitação não será intensa nos próximos dois meses.
Observam-se temperaturas mais baixas que a média no litoral das Regiões Sudeste e Sul, pela passagem de frentes frias costeiras, outra característica do La Niña, além de boa parte da Região Norte. Entre julho e setembro, a simulação CanSIPS indica chuva dentro da média em boa parte do Brasil. Ou seja, teremos um inverno tipicamente seco, mas sem o extremo observado em 2020. O Sul ainda tem uma previsão de chuva abaixo da média, o que deverá impedir um grande aumento do nível dos reservatórios da Região pelo segundo ano seguido.
A precipitação permanecerá abaixo da média sobre a Região Sul. Além disso, a temperatura continuará mais elevada que o normal desde o Rio Grande do Sul até o Sul de Mato Grosso, passando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. Por fim, o auge do período chuvoso brasileiro, o trimestre janeiro-fevereiro-março, para variar, será com acumulados abaixo do normal em boa parte do país. Os desvios negativos serão mais percebidos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, em Tocantins e na Região Centro-Oeste.
Isso não significa, obrigatoriamente, dificuldades para a agricultura, mas mostra que a reposição de água nos reservatórios poderá ser ruim pelo segundo verão consecutivo. Há mais de dez anos, os verões vêm sendo menos chuvosos que o normal, situação ligada à um fenômeno de longa duração chamado de Oscilação (Inter) Decadal do Pacífico – ODP. Não aparecem grandes desvios de temperatura. A tendência é de uma estação com temperatura dentro da média na maior parte dos Estados com exceção de uma faixa entre o Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, onde o calor predominará por mais tempo.
Temperatura – Previsão Geral
Em relação às temperaturas, no mês de maio as tardes serão mais quentes do que o normal no Rio Grande do Sul. Há previsão de quedas de temperatura, mas os modelos não indicam mínimas extremamente baixas, com exceção das áreas de Serra. De maneira geral, somente a Faixa Leste gaúcha encerra o mês com temperaturas dentro do esperado. Uma onda de frio mais intensa é esperada para a segunda quinzena de maio. Nos meses de junho e julho, boa parte da Região Sul terá temperaturas dentro da média histórica.
Precipitação – Previsão Geral
O mês de abril termina com chuva abaixo da climatologia em praticamente toda a Região Sul do país. No Rio Grande do Sul, boa parte do estado encerra o mês com 100-150mm de precipitação abaixo da climatologia, o que preocupa especialmente em relação aos reservatórios. Por outro lado, o tempo firme dos últimos dias, favoreceu a colheita do arroz no Estado.
E, infelizmente, o cenário não é otimista em relação à recuperação hídrica no Rio Grande do Sul, pelo menos em curto e médio prazo, o que preocupa em relação ao abastecimento e também na geração de energia. Isso porque para o mês de maio, a previsão é de chuva abaixo da média, mais uma vez, nos três estados do Sul.
Mesmo assim, maio terá volumes de chuva mais elevados do que o mês de abril, pois estima-se 100mm para o Rio Grande do Sul. Parte dessa chuva já deve ocorrer no início da primeira quinzena, com o avanço de uma frente fria, mas os modelos indicam chuva mais significativa na segunda quinzena. Já para o mês de junho, novamente há previsão de precipitação inferior ao normal, mas os acumulados devem chegar aos 100mm no RS. Essa chuva não resolve, mas alivia a situação de estiagem do Estado. Para julho, a precipitação aumenta, com chance de chuva acima da média, especialmente, no Rio Grande do Sul.
*POR SOMAR METEOROLOGIA