Conhecendo a história dessa entidade tradicionalista.
Tio Raymundo, o idealizador
O intuito da reportagem é resgatar um pouco da história do CTG que leva o nome de um dos idealizadores, o conhecido “Tio Raymundo”.
Raymundo Bischoff sempre viveu na região onde se localiza o município de Sertão Santana, seus bisavós vieram da Alemanha, ele se casou com Maria Goularte Bischoff, com ela teve três filhas, foi o idealizador do CTG, era muito participativo na comunidade, a qual conseguia ajudar com mão de obra e financeiramente. Eliane Bischoff Laux, filha de Raymundo, na companhia de seu marido Juca Laux, recebeu o Regional e contou um pouco de quem foi Raymundo Bischoff.
A ideia inicial teria surgido de uma visita realizada na fazenda do Doutor Ivo, na localidade de Araça, visita esta intermediada pelo cunhado do Juca, o Carlinhos, Raymundo esteve prestigiando um evento tradicionalista naquela localidade, o qual ficou completamente admirado, e retornou em sua casa decidido a fazer um “fogo de chão”. “Cada mês o Raymundo inventava uma rifa, para angariar fundos, criou até o futebol de bombacha, e foi angariando fundos, ele não chegou a concluir tudo, lembro que ele tinha muitas ideias, criou a capela mortuária e foi sempre ativo na comunidade”, lembrou Juca, seu genro.
“O Raymundo pensava no futuro de nossa comunidade, na segurança dos jovens pois ele acreditava que o CTG traria isto, ele já percebeu naquela época que o CTG era uma entidade segura para os jovens daquela época, sem falar no cultivo de nossa cultura”, lembrou sua filha Eliane.
Fogo de Chão e a Despedida
Tio Raymundo iniciou as atividades tradicionalistas com o “Fogo de Chão”, enquanto o chimarrão corria de mão-em-mão, o “Fogo de Chão” aquecia o sentimento nativo de um grupo de tradicionalistas projetando-se o ideal campeiro do gaúcho, e nestas rodas junto com muitos integrantes da comunidade, foi que a ideia de construir o CTG começou aflorar.
Seu genro contou que implantar sua ideia não foi difícil, pois através de rifas Raymundo angariava fundos, mão de obra voluntária, e muita união, onde todos ajudaram um pouco. Contudo antes de finalizar o CTG, Raymundo veio a faltar no ano de 1990, sendo uma grande perda para a comunidade, mas a semente que ele plantou juntamente com seus ideais “floresceu”.
A filha Eliane revelou que quando seu pai estava doente, ainda procurou por Luis Machado, para que este desse continuidade a esse bonito projeto.
Luis Machado e sua esposa Delsília Schwalbe
contam um pouco mais da história do CTG
Durante muitos anos o casal ficou envolvido com as atividades do CTG e nos contaram alguns fatos e registros dessa entidade tradicionalista.
Quando Raymundo estava de cama, a esposa dele dona Maria me chamou lá, pois ele queria falar comigo, cheguei lá ele estava deitado e me disse que não tinha muitos anos de vida, e continuou … (sei que tu gosta muito do tradicionalismo, e eu tenho um dinheiro e gostaria de deixar pra ti tomar conta e fazer algo pelo CTG pra não deixar morrer), pois como que vou assumir este dinheiro? Não tem uma diretoria? perguntei a ele. E ele me respondeu: (Não, não tem diretoria, é eu que arrecado estas doações das empresas, e já esta tudo encaminhado para você ficar com esse dinheiro). Na hora me neguei, como é que vou ficar com esse dinheiro, mas pensei um pouco e propus a ele, com o capital que tinha na época de comprar tudo de cimento, para quando precisar de cimento na obra nós já teríamos pago, valorizando ainda mais esse capital, e na hora ele concordou e então assumi”, lembrou Machado.
Após a morte de Raymundo em 1990, o grupo que sempre o ajudou, concluiu a construção do CTG. Foi lembrado que na época sempre vinha as cavalgadas da área urbana do município de Guaíba para a região onde hoje é Sertão Santana, só que neste mesmo ano (1990), eles pararam de visitar esta região que pertencia a Guaíba.
Em 1991 surge a primeira cavalgada tradicionalista, contudo ainda não se tinha uma patronagem e o CTG ainda não era oficialmente fundado. Todavia o espírito tradicionalista já aflorava nos participantes. Luis Machado começou a incentivar o pessoal a participar e destacou que teve um ano que chegou a juntar 115 cavalarianos.
Em 29 de maio de 1993 o CTG foi fundado, e por uma unanimidade foi escolhido como nome o seu idealizador Tio Raymundo. Neste ano Luis Machado foi convidado a ser o primeiro Patrão do CTG, mas em conversa com o grupo da época foi definido que o Patrão seria o soldado “Basílio”. Machado ficou como Sota-Capataz. É muito importante destacar que em todos esses anos Luis Machado sempre esteve envolvido nas atividades do CTG, dando suporte aos grupos tradicionalistas que percorrem muitos quilômetros nos lombos de cavalos.
A segunda cavalgada de acordo com registros fotográficos teria ocorrido em 1993. Já em 1994 Luis Machado assumiu como Patrão e teve como SotaCapataz Charles Schmidt.
O início das atividades do CTG
Dona Delsília, que participou por muitos das atividades do CTG, contou que no começo foram a Porto Alegre no MTG, para se interar do real procedimento que rege as normas que deveriam ser aplicadas dentro do CTG.
Lembrou também que seu marido Luis Machado gosta muito das atividades tradicionalistas, e devido a isso, mesmo não sendo patrão do CTG, muitas opiniões eram pedidas a ele.
O CTG começou apresentar atividades que a cada ano atraiam mais pessoas. Sempre lembrados foram os primeiros cursos de danças tradicionalistas, no qual muitas crianças (hoje adultos), participavam com maior prazer. Por estes curso passaram muitos professores, também foi lembrado com carinho do poeta Dimas Costa, que deu curso de declamação na escola e também no CTG.
O casal ainda lembrou com carinho que o CTG fazia uma domingueira por mês, e o dinheiro angariado auxiliava nas despesas da entidade, professor de danças, bem como as inúmeras viagens que se fazia com os jovens tradicionalistas para se apresentarem em outros municípios, levando o tradicionalismo para ser apreciados em inúmeros lugares.
Outro evento lembrado com carinho por Luis Machado foi uma janta a base de peixes do mar que ficou muito comentada na época e conquistou muitos paladares. Ele recorda que a casa tradicionalista vivia sempre cheia.
A Chama Crioula era recebida na Ponte que faz divisa entre Barra do Ribeiro e Sertão Santana, após o ato todos se dirigiam ao CTG para confraternizar (1994) (Foto arquivo Luiz Machado)
Participação da comunidade e dos jovens no meio tradicionalista
“Quero usar aquele lema que o Tio Raymundo sempre usou, quero dar de mim o que for necessário para dar apoio a entidade, pois lamentavelmente percebo que a participação da comunidade, aos poucos vem baixando”, alertou Machado.
“Hoje em dia tem tanta coisa para os jovens se distraírem, antigamente no CTG era uma forma deles se divertirem como muito lazer, claro hoje em dia tem tantas outras coisas que eles se ocupam, temos visto um esforço da patronagem para o tradicionalismo não morrer, mas com pouco presença dos mais jovens, acredito que tenhamos que resgatar os cursos de danças, pois com incentivo dos pais os mais novos começam a pegar gosto pelo tradicionalismo”, reforçou Delsília.
Devido a pandemia neste ano de 2020 não haverá atividades da Semana Farroupilha, mas o casal deixa uma mensagem de esperança a todos os tradicionalistas:
“Temos esperança de que passe essa pandemia, e quando nos encontrarmos novamente será com muita alegria, para juntos participarmos das atividades, pois essa é uma esperança que temos que ter, e jamais perder-mos a fé, e mantermos de pé todas as querências de nosso Rio Grande”, finalizou o casal.