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sexta-feira, novembro 8, 2024

Rio Grande do Sul vira alvo de crimes rurais, diz liderança da pecuária

Há um descompasso entre os relatos de produtores sobre a criminalidade no campo e as estatísticas da segurança pública no Rio Grande do Sul.  “O estado virou um covil de crimes rurais”, diz o presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Luís Felipe Barros. Fundado há pouco mais de três anos, o instituto tem apresentado propostas à Polícia Civil e à Brigada Militar para reforçar o policiamento nas áreas de produção agropecuária.

De acordo com Luís Felipe, hoje os crimes na zona rural não se restringem ao abigeato (furto e ou roubo de gado), que caiu de 10.767 casos, em 2016, para 5.562, em 2021. O presidente do instituto esclarece que não se refere apenas às ocorrências envolvendo a subtração de bovinos.  “Falo de roubo de defensivos e de maquinários e de cárcere privado e sequestros, que não estão sendo medidos [pelas estatísticas oficiais].”

“É fácil dizer que baixaram os crimes rurais medindo somente o abigeato. Porém, o número de ocorrências não significa que tenha caído a quantidade de roubos, porque não temos estimativa econômica de quantas cabeças foram levadas [pelos ladrões]. Portanto, há uma estatística indicando que houve redução das ocorrências, mas não vemos isso na prática. O que sentimos é o aumento das ocorrências”, enfatiza.

O dirigente do instituto acrescenta que a agropecuária se tornou alvo do crime organizado. “Temos quadrilhas especializadas roubando 30, 40 bovinos. Elas têm guias e caminhões para levar e desovar os animais aos locais de abate. A mesma coisa ocorre com o maquinário e os defensivos agrícolas. Antes tínhamos quadrilhas de saidinhas de bancos. Agora temos quadrilhas de saidinhas de defensivos.”

Luís Felipe pondera que a constatação sobre o avanço da criminalidade no campo não é uma crítica à atuação das polícias estaduais, das quais o instituto é parceiro. “Somos propositivos e parceiros [das forças de segurança]. Temos ombreado com a Polícia Civil e com a Brigada Militar para sermos mais eficientes no combate aos crimes rurais.  Queremos dar um passo adiante [na estratégia de enfrentamento ao crime].

Política de segurança coordenada
O instituto quer um policiamento ostensivo mais presente nas imediações das propriedades rurais.  “Precisamos de uma polícia mais atuante, com as Delegacias de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato (Decrabs) agindo de forma coordenada. Hoje, temos quatro delegacias especializadas, em Bagé, Alegrete, Camaquã e Cruz Alta, trabalhando individualmente”, afirma Luís Felipe.

Para ele, o avanço na política de segurança para o campo requer maior sinergia entre as Decrabs e o Departamento de Polícia do Interior (DPI) e intensificação do emprego da inovação. “O DPI tem que coordenar as atividades. Além disso, precisamos incorporar mais tecnologia no combate aos crimes rurais, para sermos estratégicos e não só reativos. Não podemos agir apenas quando há alguma ocorrência.”

O presidente do instituto cita algumas medidas para a segurança no campo. Entre elas, o cercamento das principais estradas rurais, a fim de que as polícias possam ter provas do que ocorre na zona agrícola, e o desenvolvimento de aplicativos para identificar as marcas e os sinais dos animais das fazendas. “Estamos trabalhando nisso, sendo parceiros da Polícia Civil e da Brigada Militar”, reforça.

O Desenvolve Pecuária propõe ainda que o Programa de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública (Piseg) tenha projetos específicos para a área rural. Por meio do Piseg, empresários podem destinar até 5% do saldo devido de ICMS ao estado para compra de veículos, armas, munições, capacetes, coletes, rádios, equipamentos de rastreamento, de informática, bloqueadores de celular, câmeras e centrais de videomonitoramento.

“Não há nada específico para o campo nem para as Delegacias de Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato no Piseg. O produtor quer aportar [recursos] para combater os crimes rurais, mas não consegue, porque tudo que é arrecadado é destinado à segurança pública como um todo.” Conforme Luís Felipe, é possível resolver isso por meio de ato administrativo da chefia-geral da Polícia Civil, algo que o Desenvolve Pecuária vem sugerindo.

*Com informações de AGROemDIA

 

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